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sexta-feira, 21 de outubro de 2011

QUE i é esse?

             Você já foi vítima do QI? Pois, eu já fui. QI é a sigla psicanalítica para quociente de inteligência. Ou seja, é um teste que é empregado para saber o nível de inteligência de indivíduo. Em 1905, os franceses Alfred Binet e Theodore Simon estabeleceram uma escala de inteligência, chamada "Escala Binet-Simon", que correspondia ao seguinte:

QI acima de 140 - Genialidade
QI de 120 a 140 - inteligência muito acima da média
QI de 110 a 120 - acima da média
QI de  90 a 109 - inteligência normal (ou média)
QI de  80 a 89   - Embotamento
QI de 70 a 79    - Limítrofe
QI de 50 a 69    - Raciocínio lerdo

             A partir de 1912, Wilhelm Stern propôs o termo QI e a análise mental em termos de "idade mental" versus "idade cronológica."

             Os testes de QI passaram a ser empregados largamente nos EUA a partir de 1907, e até 1963 mais de 64 mil pessoas foram esterilizadas com base nesses testes, sob a legislação norte-americana de eugenia, que autorizava a esterilização das pessoas consideradas "lerdas ou embotadas," sendo que a maioria delas era de origem afro-americana. Mas, os norte-americanos não foram os únicos a empregarem os testes de QI para promover a eugenia e visando "apurar" a qualidade racial,do mesmo modo ingleses, suecos, franceses e, principalmente, os alemães empregaram os testes de QI com a ambição de criar uma elite de indivíduos geniais.

            Pois bem, no Brasil não foi tão dramático, mas o emprego de testes de QI davam-se especialmente em escolas católicas e estrangeiras. E esse foi o meu caso. Eu estudava numa escola de freiras francesas que levavam os testes de QI muito a sério. Aos seis anos fui classificada com QI 87, como "infantilizada," só porque eu era uma troca letras de primeira e falava uma língua que ninguém entendia,  e durante a alfabetização escreveria da mesma maneira, um problema que acompanhou-me nos primeiros anos de estudo. Hoje, eu sei que o problema era bem outro. Acontecera que eu quando naníca com meus tenros aninhos de infância tinha mania de ver as revistas que tinham nas casas dos meus avós, e deixavam-me lá quieta vendo o que pensavam ser fotografias da LIFE, Paris-Match e Parati (uma revista espanhola), só que eu ficava tentando ler as palavras. Como se não bastasse, Mamãe era professora de violão e cantava músicas em inglês, francês e espanhol, e eu, desde pequena apaixonada por músicas, vivia cantarolando com ela. Em resumo, misturei tudo e passei a falar uma língua que mais parecia o Esperanto e a escrever do mesmo modo. Para complicar, no colégio das freiras também se falava francês, logo o meu português virou uma estrangeirísse só.

            Terminado o Primário com muito esforço no português, foi graças a minha habilidade com a Matemática e nas atividades artísticas, que ao fazer um novo teste de QI fui classificada como "acima da média,"  com QI 110, e que o meu problema estava em pensar rápido demais o que refletia-se na minha escrita, ou seja, eu precisava aprender a escrever mais devagar. O problema foi diagnosticado através dos meus raciocínios matemáticos, em que eu pulava várias etapas e logo ia aos finalmente.

             Considerando que eu tinha uma inteligência "prometedora" forçaram meus pais a enviarem-me para o novo colégio semi-interno das freiras, onde uma "elite de meninas inteligentes teriam amplas oportunidades de desenvolverem suas capacidades num moderno método de estudo." E lá fui eu para os anos mais aborrecidos da minha vida! Por conta do tal QI 110 os professores exigiam de mim o máximo nos estudos, e o mais simples erro virava uma nota baixa. Nos três primeiros anos até que eu me empenhava, achando que não estudava o suficiente, até que descobri que estava exigindo de mim o que não era exigido das outras alunas e eu simplesmente parei de estudar, tirava notas só para passar de ano e foi assim que formei-me no ginásio.

             Com os meus 16 anos fui para o Colegial (Ensino Médio) em outro colégio de freiras francesas, fiz outro teste de QI e fui classificada como "inteligência muito acima da média," mas dessa vez os professores diziam que ensinar uma aluna como eu era o sonho de todo professor.  Foi lá que o meu português virou finalmente uma linguagem esmerada, mas quis o destino que eu abandonasse os estudos, por pura revolta e rebeldia, já que ir estudar na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, não estava de maneira nenhuma nos planos que os meus pais tinham para mim. O meu destino teria que ser o "casamento" e ponto.

            De qualquer maneira, aquele QI 87 foi traumatizante na minha infância e justo nos primeiros anos de estudo. Meu consolo foi saber que Einstein um dia também foi considerado pouco inteligente por não ser um bom aluno em matemática!

             Quando fui fazer uma visita a Oslo, na Noruega, ficando hospedada na casa de professores universitários, a dona da casa disse-me que eu tinha o "dom da língua," pois conseguia que as pessoas me entendessem muito bem apesar do meu inglês naquela época ser ridículo e o francês deles ( que cheguei a falar tão bem quanto o português) ser tão ridículo quanto o meu inglês, mesmo assim conversávamos até altas horas da madrugada. Esse tal "dom da língua," comprovou-se quando dei assessoria à Embaixada da China, em Brasília, ninguém entendia como eu conseguia passar horas e horas em reuniões com o adido militar chinês que ninguém entendia o que ele falava. Era uma piada a "salada" línguística que empregávamos nas reuniões, mas funcionava. Eu falava espanhol, português e inglês com sotaque chinês, ficava muito engraçado.

            Ontem, uma notícia fez a minha rendeção do QI 87. A Dra. Cathy Price, professora e chefe das do Wellcome Trust Centre de Neuroimagem da Universidade College de Londres (UCL) , dando uma entrevista sobre os resultados obtidos da pesquisa feita entre 2007-2008, sobre funcionamento cerebral entre jovens adolescente e a oscilação do QI, disse o seguinte:

"A questão é, se nossa estrutura cerebral pode mudar durente as nossas vidas adultas, nosso QI pode mudar? Meu palpite é que sim. Há muita evidência que sugere que nossos cérebros podem se adaptar e sua estrutura pode mudar, mesmo na idade adulta.


Nós temos a tendência de avaliar as crianças e de determinar sua trajetória educacional relativamente cedo na vida, mas aqui demonstramos que sua inteligência ainda está se desnvolvendo. Temos que ser cautelosos para não descartar aqueles com desempenhos piores em um estágio precoce, quando de fato o seu QI pode melhorar significativamente alguns anos adiante." 


             Pois é, eu podia ser boa em matemática, o que me salvou do rótulo do QI baixo, mas não tornei-me um gênio da Física como Einstein, mas o que eu sempre quis ser: uma escritora (apesar de ter sido uma troca-letras de fazer inveja ao personagem Cebolinha do Maurício de Souza!).

             Assim, eu espero que todos aqueles que algum dia sentiram-se envergonhados com seus testes de QI, pensem que os estúpidos de hoje podem ser os inteligentes de amanhã e os inteligentes de hoje poderão ser os estúpidos de amanhã! Pois a "inteligência" ainda é um grandioso mistério, e de uma forma ou de outra há vários tipos de inteligência, mas a inteligência mais importante é aquela que nos garante não só a sobrevivência, mas a felicidade. Além do mais a tal de "genialidade" possivelmente pode ser um dom ou mesmo uma maldição dívina, vai depender sempre do uso que a pessoa que a possui faça dela.

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