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terça-feira, 24 de abril de 2012

FÉ – A CONSCIÊNCIA SUBLIME




O fato de eu estar sempre afirmando que “não sou uma pessoa de religião, porque a fé nos aproxima de Deus e a religião nos afasta,” sempre causa alguma perplexidade e uma pergunta recorrente: “Mas, fé e religião não são a mesma coisa?” Lógico que “não”, respondo eu. Outra pergunta se apresenta de imediato: “Qual é a diferença?” E vem a resposta: “A religião é a confiança que uma pessoa deposita no que outra pessoa afirma ser a maneira de lidar com o mundo invisível, ou de se re-ligar com a essência divina ou com Deus. Enquanto a fé é a firme consciência do que está além da compreensão racional humana, da essência divina ou de Deus.” Ou seja, uma pessoa pode ser religiosa e não ter fé, ou ter fé e não ser religiosa. Então, é normal, que a curiosidade seja despertada e venha mais uma pergunta: “Então, o que é a FÉ?” Assim, em razão desta pergunta me ser feita tantas e tantas vezes, eu decidi que seria interessante escrever um texto mais completo a respeito, e espero que seja ele seja útil de alguma maneira a todos que o lerem, mais do que isso, eu desejo que mais e mais pessoas possam se aproximar de Deus e serem felizes, pois como gosto de dizer Deus criou o ser humano para a felicidade e não para ser infeliz.

A primeira vez que a palavra “FÉ” foi empregada foi pelo profeta hebreu oriundo de uma nobre família do reino de Judá de nome Isaías (765 a.C. – 681 a. C.), o qual atendeu um chamado de Deus no ano de 740 a.C., quando tinha 25 anos,  e exerceu o ministério profético por cêrca de 50 anos. Na época do nascimento de Isaías o antigo reino dos hebreus fundado pelo rei Davi estava dividido em dois: ao norte ficava o reino de Israel com a capital na cidade de Samaria e ao sul o reino de Judá com capital em Jerusalém. No ano de 722 a.C. o reino de Israel foi tomado pelo poderoso e cruel exército do povo assírio – o qual era originário da região do Cáucaso (entre o mar Negro e o mar Cáspio) e conquistara o domínio da região da Mesopotamia, formando um poderoso Império. A capital de Israel, Samaria, foi destruída e mais de 27.000 hebreus foram deportados como escravos para Nínive, então capital do Império Assirio. Mas, muitos deles conseguiram fugir para o reino de Judá e se refugiaram em Jerusalém e Isaías ao que parece estava entre os refugiados e deveria estar com seus 43 anos. E sem dúvida o testemunho da destruição de sua terra natal foi para ele de grande impacto emocional e grande parte de suas profecias viriam a ganhar a realidade após a sua morte no ano de 681 a.C., no mesmo ano que faleceu o último grande rei assírio, Senequerib (705 a. C. – 681 a. C.), o qual fizera do reino de Judá vassalo do Império, obrigando-o a pagar altos emolumentos para não ser atacado e destruído como o for a o reino de Isarael. Tal como preconisara Isaías, a decadência veio para o Império Assírio e foi este tomado pelos caldeus, que estabeleceram-se na cidade da Babilônia em 625 a.C., e estes investiram contra Jerusalém em 586 a.C., devastando o Templo de Salomão, e levando o povo do reino de Judá para o exílio na Babilônia, onde permaneceria em cativeiro pode 50 anos, até a Babilônia caísse em poder dos persas e Ciro, o Grande, promovesse o retorno do povo hebreu para Jerusalém.

Como o bom senso ensina, por melhor profeta que Isaías fosse, e tivesse uma visão do futuro fantástica, não se pode esperar que nomes por ele citados correspondam exatamente aos personagens históricos, mas em linhas gerais seu acerto impressiona qualquer leitor contemporâneo que tenha um mínimo de conhecimento histórico. Talvez a mais impressionante de suas narrativas sejam aquelas que se referem à vinda de um Rei glorioso, que veria restaurar a ordem no mundo: o “Príncipe da Paz”, “O Servo do Senhor”. Tais profecias parecem descrever a pessoa de Jesus, o Nazareno, e com tal perfeição em dados momentos que chega a assombrar.

Segundo o estudioso Jeff A. Benner a palavra “FÉ” originou-se de uma tradução do hebraico “emunah”, que também significa “fé” mas com o sentido de “firmeza”, aquele que é firme em suas ações, e deriva da palavra “emun”, que quer dizer artífice ou mais precisamente “aquele que é seguro e firme em seu talento”.  Neste sentido foi empregada por Isaías em 22: 22-23, em que se pode ler “Porei sobre seus ombros a chave da casa de Davi; se ele abrir, ninguém fechará; se fechar, ninguém abrirá; fixá-lo-ei como prego em lugar de firmeza (ou de fé) e le será um trono de honra para casa de seu pai.” Como bem escreve Jeff A. Benner “Quando a palavra hebraica emunah é traduzida como uma incompreensão de seu significado ocorre. é usualmente é perseverar com um propósito. Ter fé em Deus não é saber que Deus existe ou que ele irá agir, mais que isto é que alguém com emunah (fé) irá agir com firmeza na direção da vontade de Deus.”

A segunda vez que a palavra hebraica emunah foi empregada no sentido de FÉ foi no texto hebraico do profeta Habacuc (ou Habacuque, ou Habakuk), com data provável de 612 a.C, onde se pode ler em 2: 1-4 o seguinte: “Eu vou ficar de sentinela, e postar-me sobre a trincheira; eu vou espreitar o que vai me dizer o Senhor, e o que eu responderei. E o senhor respondeu-me assim: “Escreve esta visão, grava-a em tabuinhas, para que ela possa ser lida facilmente; porque há ainda uma visão para um termo fixado, ela se aproxima rapidamente de ser termo e não falhará. Mas se tardar, espera-a, porque se realizará com toda a certeza e não falhará. Eis que sucumbe o que não tem a alma integra, mas o justo vive por sua fidelidade (firmeza, fé).”  Outra tradução desta última frase é : “Eis aqui um soberbo, sua alma não é reta; o justo em sua viverá.” Já o mais letrado dos pregadores dos ensinamentos de Jesus, Paulo de Tarso, empregou por três vezes o que Habacuc escreveu em suas epístolas aos Romanos (1: 17), aos Galátas (3:11) e aos Hebreus (10: 37) traduzindo para “o justo viverá pela fé. ” Mas, considere-se que todas essas traduções da palavra hebraica emunah não levam em conta o sentido correto que os hebreus davam a ela, e isso faz toda diferença.

Jesus, o Nazareno, foi o responsável pelo emprego da palavra emunah em suas pregações dando-lhe um peso que não fora-lhe dado até então. A primeira menção dessa palavra nos evangelhos está na passagem em que Jesus encontra-se com um centurião romano e esse lhe pede que cure o seu servo que está doente, e Jesus disposto a ir até a casa do centurião para curar o servo dele, ouve do centurião o seguinte: “Senhor, eu não sou digno que entreis em minha casa. Dizei uma só palavra e meu servo será curado.” Ao ouví-lo Jesus se encheu de admiração e disse: “Em verdade vos digo: não encontrei semelhante firmeza  (fé) em ninguém de Israel…” Outra passagem é quando uma mulher tocou escondida a orla das vestes de Jesus na certeza que apenas isso a curaria, e apercebendo-se do gesto dela disse-lhe: “Tem confiança, minha filha, tua firmeza (fé) te salvou.” Em outra, dois cegos seguiam Jesus, gritando: “Fillho de Davi, tem piedade de nós!” Quando os cegos se aproximarm dele Jesus lhes perguntou: “Credes que eu posso fazer isso?” – e eles assentiram. Jesus lhes tocando nos olhos disse: “Seja-vos feito segundo a vossa firmeza (fé).” E eles foram curados. Ainda em outra passagem, quando Jesus aparece andando sobre o mar da Galiléia, e Pedro não acreditando que fosse Jesus pede para ir ao seu encontro andando sobre as águas, e Jesus o chama dizendo “Vem!” e Pedro saiu do barco e também começou a caminhar sobre as águas indo ao encontro de Jesus, mas por causa de uma ventania Pedro teve medo e começou a afundar e a gritar para que Jesus o salvasse, e Jesus o segurou e lhe disse: “Homem de pouca firmeza (fé), por que duvidaste?”  De outra feita, uma mulher cananéia berrava desesperada atrá de Jesus pedindo que curasse a filha dela, e ela se prostrando aos pés dele pedindo ajuda, Jesus lhe disse: “Não convém jogar aos cachorrinhos o pão dos filhos.” E ela disse a Jesus: “Certamente, Senhor, mas os cachorrinhos ao menos comem as migalhas que caem das mesa de seus donos…” E, Jesus respondeu-lhe: “Ó mulher, grande é a tua firmeza (fé)! Seja-te feito como desejas”. Jesus também disse aos discípulos quando perguntara-lhe porque não conseguiam fazer milagres: “Por causa de sua falta de firmeza (fé) Em verdade vos digo, se tiverdes firmeza (fé), como um grão de mostarda, direi a esta montanha: Transporta-te daqui para lá, e ela irá, e nada será impossível”.   

Os exemplos acima mostram bem o sentido hebraico da palavra FÉ, como firmeza, a certeza de uma capacidade para uma ação, ou seja, uma convicção intíma, a ponto de Jesus não se considerar o obreiro dos milagres, mas sim que a FÉ que a pessoa possuia dentro dela é que a curara. Jesus compara a FÉ a um grão de mostarda, pois ele dissera: “O reino dos céus é comparado a um grão de mostarda que um homem toma e semea em seu campo. E esta é a menor de todas as sementes, mas quando cresce, torna-se um arbusto maior que todas as hortaliças, de sorte que os passaros vêm aninhar-se em seus ramos.” E é essa é a verdade, a FÉ é o proprio "Reino dos Céus", a convicção que nasce em nosso ser de que algo é possível com tal firmeza, que não colocamos dúvidas quanto a ela.

A palavra hebraica amunah foi traduzida para o grego como pistis (confiança, persuação), depois traduzido para o latim como fides (fidelidade),  foi traduzido para o francês primeiro como fed, depois feit, (hoje foi) quando em torno de 1.200/1.250 da nossa era pela primeira vez foi grafada na forma inglesa de feith, com o sentido de “confiança”. A idéia da palavra FÉ como conceito de uma prática religiosa em particular só passou a existir em razão do confronto de uma religião com outra, e pelas disputas religiosas em torno da veracidade de uma religião em relação a outra, e este mau emprego da palavra FÉ cada vez mais a esvaziou de seu sentido mais profundo com seu uso de tal forma indiscriminado que a deixou sem entendimento para as novas gerações.

Com o início da chamada idade da razão iniciada ao final do século XVIII, que promoveu o racionalismo e proporcionou um crescente avanço científico a palavra FÉ ganhou uma conatação pejorativa e antagônica à própria razão humana, passando a ser considerada como uma firme opinião de uma verdade subjetiva, sem qualquer tipo de prova ou critério científico para verificação de sua veracidade, em razão de uma confiança pessoal depositada numa idéia ou fonte de transmissão sobre a qual não se coloca dúvida. Mas, será isso mesmo? Pois, eu digo que NÃO!

Com o racionalismo vigorante no século XIX deu-se início a um pensamento cada vez mais forte anti-Deus, uma verdadeira campanha da negação de Deus começou a ser promovida pelo filósofo judeu-alemão Karl Marx (1818 – 1883) para justificar suas idéias defensoras de um materialismo racional centrado na capacidade humana intelectual de desenvolver seu próprio conhecimento cientifico e com ele mudar a realidade em que vive. Para Karl Marx alguém que acreditava em Deus devia ter “um distúrbio mental que invalidava sua capacidade de pensar”. Esse pensamento foi seguido pelo inventor da psiaquiatria o judeu-austríaco Sigmund Freud (1856 – 1939) que afirmou que “uma pessoa que acredita em Deus é delirante e agarra-se a essa crença por causa do seu desejo de realização pessoal”. Já o filósofo protestante-alemão Friedrich Nietzsche (1844 – 1900) foi ainda mais longe e em sua obra “A Gaia Ciência” (1882) escreveu: “Deus está morto! Deus permanece morto! E quem o matou fomos nós! Como haveremos de nos consolar, nós os algozes dos algozes? O que o mundo possuiu, até agora, de mais sagrado e mais poderoso sucumbiu exangue aos golpes das nossas lâminas. Quem nos limpará desse sangue? Qual a água que nos lavará? Que solenidades de desagravo, que jogos sagrados haveremos de inventar? A grandiosidade deste ato não será demasiada para nós? Não teremos de nos tornar nós próprios deuses, para parecermos apenas dignos dele? Nunca existiu acto mais grandioso, e, quem quer que nasça depois de nós, passará a fazer parte, mercê deste ato, de uma história superior a toda a história até hoje”. Nietzsche integraria as inúmeras vozes que se levantaram para combater a crença religiosa/religião naquele tempo e como só poderia ser ele aumentou a confusão entre o conceito da palavra FÉ ligando-a à prática religiosa ao fazer afirmações como estas: “A fé não move montanhas. Na verdade coloca montanhas onde não existe nenhuma…”, ou “A fé é ignorar tudo aquilo que é verdade”, e ainda “Uma visita ao hospício mostra que a fé não prova nada.” Assim nascia o que veio a ser conhecido como ateismo, um pensamento que excluía todo e qualquer conceito sobrenatural que estivesse ligado a existência de uma esfera superior de poder além da própria capacidade racional humana e sua análise cientifica da realidade. Um pensamento que nega a existência de Deus e combate a FÉ, dando-a como própria de pessoas desprovidas de inteligência e de racionalidade.

Era o ano de 1889 quando na Áustria nasceu Adolf Hitler numa família de classe média católica, aos três anos mudou-se com a família para a Alemanha. Adolf tornou-se uma criança séria, meio mau humorada por causa da rigidez da criação adotada por seu pai, um alfandegário, mas muito devotado e complacente à mãe. Aos oito anos estudava num colégio de monges beneditinos, cantava no coral e pensava em se tornar padre. Quando tinha dez anos seu irmãozinho de seis anos a quem era muito afeiçoado adoeceu durante o inverno e veio a falecer, o que afetou Adolf de maneira profunda, tornando-o ainda mais introspectivo e arredio às exigências paterna. Em sua adolecência afeiçou-se a pintura e queria fazer a escola de belas-artes, mas seu pai queria que ele seguisse a carreira de alfandegário, o que gerou conflito entre eles. O pai faleceu quando ele tinha 14 anos, e nos anos seguintes Adolf foi descrito por aqueles que o conheceram como um católico sério, devoto, dotado de coração terno, generoso, paciente, amoroso, que cuidava da mãe com cancer e que gastava seu tempo lendo filósofos alemães. Adolf tinha 15 anos quando leu o livro “Genealogia da Moral” (1887),  de Nietzsche, que abordava a distinção entre o bem e o mal, e a distorção da realidade pelo pensamento religioso cristão –  que santifica a miséria humana e enaltece o altruísmo formando uma ‘realidade para escravos’, fomentando idéias para derrotados. Na sequência de suas leituras veio outro livro de Nietzsche, “Assim falava Zaratustra” (1883), em que o filósofo tece a teoria sobre um homem superior, um homem evoluído, um novo tipo de homem que superaria em tudo o homem inferior – aquele que não tinha a capacidade de elevar-se e ir além de sua misera condição de escravo das circunstâncias. Assim, a cabeça do jovem Adolf enchia-se de idéias que moldariam a sua jovem mente. Quando sua mãe veio a falecer, Adolf tinha quase 18 anos, emocionalmente alquebrado sem nada que o prendesse aos valores que foram lhe dado pela mãe, iniciou sua jornada solitária e tortuosa para se tornar o maior e mais sanginário ditador europeu que o mundo já houvera conhecido.

A mente de Adolf Hitler divisara uma percepção da capacidade humana de manipular as massas e conduzí-las sob uma liderança, mesmo que para isso se fizesse uso da maior mentira, pois as massas tendiam a acreditar naquilo que queriam acreditar e que dizesse respeito ao seu próprio benefício. Por isso dizia: “Quanto maior a mentira, maior a chance de ser acreditada… Torne  amentira grande, simplifique-a, continue afirmando-a, e eventualmente todos acreditarão nela.” E, por mais incrível que possa parecer, ele estava certo.  E, fazendo uso prático de suas palavras constituíu a primeira campanha de marketing político; a máquina de propaganda nazista. Em pouco tempo Adolf Hitler emergiu das massas descontentes alemãs como um líder messiânico que conduziria o povo alemão à sua redenção. E, ele próprio passou a se sentir como um predestinado, dizendo: “Não estou convencido que nada acontecerá comigo, para eu conhecer a grandeza do desafio para o qual Deus me escolheu… Quem disse que eu não estou sob a proteção especial de Deus? …Acredito hoje que a minha conduta está de acordo com a vontade di Criador Todo-Poderoso… Eu sigo o caminho que Deus dita com a segurança de um sonâmbulo.” E, o povo alemão acreditou em todas as mentiras dele e se subjulgou ao seu domínio, e o que havia de pior na natureza humana surgiu de uma maneira monstruosa como nunca se vira antes, e o mundo soube o que era um ser humano sem Deus, um ser humano sem FÉ, e por não ter FÉ em si esse ser humano era um predador desalmado, a pior das feras da face da Terra.

A trágica história da II Guerra Mundial do século XX foi a dramática revelação do quão torpe o ser humano pode ser quando levado por uma mente dominada por um racionalismo materialista, que considera sua inteligência como a única verdade e desconsidera a verdade que deveria lhe saltar aos olhos e ser mais nítida que todas: que sua capacidade intelectual é limitade pela sua própria incapacidade de compreender as coisas que não são de sua própria realidade. Como Jesus disse: “Se não acreditais quando vos falo das coisas da terra, como ireis crer quando eu vos falar das coisas do céu?” (São João 3,12 )

Pois a verdade é essa, a FÉ não é uma coisa da terra, mas vem do alto, é do Céu. É uma energia agregada à energia da vida, que ninguém sabe de onde vem nem para onde vai, e por mais que o ser humano busque reproduzí-la artificialmente não conseguirá jamais com a mesma perfeição. Se alguém quiser saber o que a FÉ é, deve olhar para uma criançinha, observe-la cuidadosamente e, então, verá a FÉ imensa que há nela. Não é o instinto de sobrevivência, nem o de preservação que a levará a sobreviver ao meio hostil, é algo mais, é a consciência sublime que já a habita e lhe dá a força e a firme convicção de que está viva e viverá – é a FÉ agindo de maneira milagrosa a cada pequenino instante da vida que se manifesta naquele serzinho. A manifestação da existência da FÉ como uma poderosa energia que move os seres vivos à vida está por todo os lugares, levante uma pedra e a FÉ estará lá, respire o ar e você a respirará. A FÉ estará presente a cada pensamento, em cada reflexão, a cada vez que desejamos compreender e aprender o que não compreendemos e o que não entendemos. Contudo, apesar de nossas limitações, nós insistimos no que parece impossível, simplesmente porque a FÉ nos faz perseverar. Ela é a firmeza que nos move sem nos darmos conta dela, do mesmo modo que não nos damos conta que o nosso coração está batendo e que se ele parar morreremos.

A FÉ é muito mais que uma crença em Deus, que uma religião qualquer, pois a FÉ é a própria presença dessa inteligência soberana que anima a vida e a conduz, a qual por nós não termos uma melhor definição racional do que seja realmente, a chamamos de Deus, apenas por um costume de mais de cinco mil anos de civilização humana, adotado quando o ser humano percebeu que a vida era um milagre, uma espécie de mágica que não conseguia reproduzir por ele mesmo. No momento que o ser humano descobriu que a energia da vida não lhe pertencia, concluiu que ela deveria pertencer a algum lugar, e que ela não vinha da terra, mas do céu, do alto, do que chamamos Universo. Logo, mais de cinco mil anos de civilização humana, bilhões e bilhões de pessoas viveram e morreram nesse período e todas tiveram alguma forma de crença divina. No ano 1 da nossa era a população de seres humanos de apenas 150 milhões de pessoas e todas diziam ter alguma forma de crença. A população chegou a 1 bilhão em 1804, e a partir de então teve início a negação da existência de Deus. Hoje nós somos 7 bilhões de pessoas e apenas 3,97% de pessoas, ou seja, 278 milhões de pessoas não possuem nenhuma crença na existência de manifestações divinas. A pergunta é: como não pode ser verdadeiro, como não pode ser real algo que é testemunhado por quase toda a Humanidade em mais de cinco mil anos? Então a Humanidade sempre foi tomada de alguma forma de loucura! Ainda bem, por conta dessa "loucura coletiva" da FÉ a Humanidade tem sobrevivido até hoje e superando todas as tragédias deste mundo. 

Não importa se o ser humano necessita dar à FÉ uma aparência institucional, tal como o são as religiões, não importa qual o nome do ser divino que será o responsável por promover a vida e  a FÉ, importa que a FÉ – essa firmeza fabulosa que orienta a energia da vida – no caso do ser humano que foi dotado para ter a consciência sublime dela, é a sua inspiração que o faz  progredir e a dar melhor de si a este mundo no qual ele só está de passagem. Porquanto, a semelhança da vida, o ser humano não sabe porque veio à existência e para onde irá quando a vida nele não mais habitar. Pois como bem Jesus disse em referência à vida: “O reino dos Céus (do Pai) assemelha-se a mulher que carrega uma bilha cheia de farinha, andando por longo caminho. A alça da bilha se quebra e a farinha se espalha atrás dela pelo caminho, sem que ela o percebesse: e por isso não se afligiu. E, chegando em casa, pousou a bilha no chão e viu que estava vazia.” (Tomé 97) Como a mulher carregamos a vida em nosso corpo e ela vai ficando pelo caminho da nossa existência na terra, e não nos afligímos por isso no nosso dia a dia, só nos daremos conta disso quando vermos que não há mais vida em nós. Em relação à FÉ, Jesus também disse: “O reino dos Céus é comparado ao fermento que uma mulher toma e mistura em três medidas de farinha e que faz fermentar toda a massa.” (Mt. 13:33) Então, a farinha é a energia da vida e o fermento é a FÉ, e juntas ambas compõe a massa existêncial de um ser vivo. Em nosso caso de seres pensantes e racionais a FÉ é uma consciência sublime que engrandece a nossa existência e  a torna mais significativa, de modo que possamos contribuir para que mágica surrelista da vida continue acontecendo e nos brindando com todo o seu encantamento. E, em vez de negarmos a FÉ que exite em nós, deveríamos conhecê-la melhor, para nos apercebermos de sua presença e do modo do seu agir em nós, e aí quando finalmente soubermos reconhecê-la, seremos gratos todos os nossos dias por termos a consciência sublime que é a FÉ em nós, pois ela é a prova inegável e incontestável da existência daquele que alguns de nós carinhosamente chamam de Deus, o nosso amado Pai do Céu.

                 FÉ É A CONSCIÊNCIA SUBLIME DE DEUS EM NÓS                  photo by Carlos Gouvêa