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quarta-feira, 22 de agosto de 2012

COMPETITIVIDADE BRASILEIRA


Nesses dias das Olimpiadas de Londres, eu andei refletindo sobre a capacidade do povo brasileiro de competir. A impressão que eu tenho por vezes é que o brasileiro não nasceu para competir com ninguém ou que simplesmente não aprecia tanto a competição quanto os outros povos. Digo isso porque eu observei que tomando o desempenho dos atletas brasileiros desde a primeira Olimpiadas realizadas na Antuérpia em 1920 até os dias de hoje, pode-se traçar um paralelo entre o desempenho  olímpico e o desempenho do Brasil quanto ao seu progresso e desenvolvimento econômico, no qual é possível verificar um resultado analítico capaz de responder a razão pela qual o sucesso brasileiro de modo geral se traduz num compasso de dois passos para frente e um para trás.

Em 1920, o Brasil estreiou nas Olimpiadas de Antuérpia, com apenas 21 atletas e levou três medalhas, uma de ouro, uma de prata e uma de bronze, conquistando a 15ª posição entre os países competidores. O Brasil não fez feio e correspondeu a idéia que o mundo fazia dele de "uma Nação prometedora para o futuro". Parou alí. Nas quatro Olimpiadas seguintes o Brasil foi um total fiasco e só veio a ganhar uma medalha de novo, e de bronze, nas Olimpiadas de Londres em 1948 – apesar de contar com uma delegação de 70 atletas. Nova medalha de ouro só veio em 1952, nas Olimpiadas de Helsinque, e o feito se repetiu nas Olimpiadas de Melbourne em 1956, onde 25ª lugar foi novamente sustentado. Todavia, o desempenho brasileiro seria lamentável até as Olimpiadas de Moscou em 1980, quando para surpresa de todos o Brasil levou duas medalhas de ouro e duas de bronze e galgou para o 18º lugar. A partir de então o desempenho brasileiro ficou sustentado marcando passo, até que no ano 2000, nas Olimpiadas de Sydney foi um desastre! Apesar de seis medalhas de prata e seis de bronze com uma delegação de 205 atletas, o Brasil ficou classificado em 52º lugar e foi a vergonha nacional. Contudo, nas próximas Olimpiadas de Atenas de  2004, o Brasil mostrou a sua capacidade de recuperação e uma inusitada capacidade de competição. Assim, com uma delegação de 247 atletas, o Brasil conquistou cinco medalhas de ouro, 2 de prata e 3 de bronze, para orgulho nacional ficou 16º lugar. Tal desempenho estimulante não veio a se repetir nem nas Olimpiadas de Pequim em 2008 e muito menos nas Olimpiadas de Londres desse ano, onde o único feito foi sair do 23º para o 22º lugar, apesar que em ambas ocasiões os atletas dessas delegações – com 277 e 258 respectivamente –  tenham sido os que mais receberam patrocínio governamental e privado, contando com o melhor apoio técnico de toda história desportiva do Brasil. Resta então a pergunta, qual foi o ingrediente que faltou aos nossos atletas em Londres para que tivessem o desempenho que nós esperávamos deles?

Eu arrisco aventar que esteja relacionado com o momento político-econômico brasileiro, isso porque pode-se observar que os melhores desempenhos se deram em momentos que o Brasil estava cheio de esperança e confiança no futuro: em 1920 com a nascente República brasileira, em 1980 com o processo de abertura democrática e em 2004 com a vitória da chegada do Partido dos Trabalhadores à presidência da República. Por sua vez os desempenhos pífios se  deram justamente em momentos de crises políticas, como a ditadura Vargas (durante a II Guerra Mundial) e a ditadura militar (durante a Guerra Fria), ou de recuperação de crises econômicas mundiais como a de 1999 e a de 2008-2009.

Pode-se dizer assim que os atletas refletem em seu desempenho não só a confiança como também o comprometimento e o orgulho patriótico que possuem em relação aos seus países. Algo que os analistas brasileiros nunca consideraram, levando em conta apenas o aspecto técnico de preparo para o desempenho desportivo. Não obstante, os países que ocupam desde 1920 os primeiros lugares na classificação sabem muito bem disso. Hitler foi o primeiro a deixar claro isso, depois os EUA, Grã-Bretanha, URSS (antiga Russia), China, e as Alemanhas Ocidental e Oriental passaram a se degladiarem de tal maneira durante os Jogos Olimpicos que não davam chance para mais ninguém, a disputa ficava entre os EUA e seus aliados e a URSS com os seus. Era até um tédio assistir os Jogos Olímpicos durante o período da Guerra Fria (1945-1989). Só a partir dos anos de 1990 as Olimpiadas deixaram de refletir o poder político dos países – por conta do fim da Guerra Fria (1989) –, no entanto elas passaram a refletir o poder econômico e comercial dos países, tal como pode-se constatar no quadro de classificação dos países na recente Olímpiadas de Londres: lugar – EUA com 46 medalhas de ouro; lugar – China com 38 medalhas de ouro; lugar – Reino Unido com 29 medalhas de ouro; lugar – Russia com 24 medalhas de ouro; lugar  – Coréia do Sul com 13 medalhas de ouro; lugar – Alemanha com 11 medalhas de ouro; lugar – França com 11 medalhas de ouro e depois  vem o resto dos 195 países participantes. Se houve alguma surpresa foi a do I –o atual inimigo número um das democracias ocidentais – , por ter pontuado com quatro medalhas de ouro e ocupado o 17º lugar, logo atrás de Cuba, mas de resto está tudo como sempre e foi só a motivação que mudou.

Nestes dias a mídia brasileira vira e mexe tem apreciado destacar o mal desempenho da econômia brasileira neste ano, como se o mundo todo não estivesse sofrendo os duros solavancos da custosa recuperação da econômia mundial consequente da crise econômica de 2008-2009. O problema ao meu ver está justamente na falta do exercício da atividade de competição da camada produtiva da econômia brasileira. Nossos empresários e industriais por vezes se comportam como a judoca Sarah Menezes – capaz de conquistar uma medalha de ouro no primeiro dia das Olimpiadas,  levando o otimismo brasileiro às alturas –, ou como o time de volei feminino, – que encheu de orgulho a todos –, e em outras vezes como a atleta nada afamada do pentatlo moderno Yane Marques – que classificada em 18º lugar nas Olimpiadas de Pequim, demonstrou uma capacidade única de superação, conquistando a medalha de bronze –, que uniu todos brasileiros num estado de admiração perplexa com a atleta anônima de quem a mídia pouco ou nada falara. Mas, grande parte das vezes nossos empresários e industriais se comportam como o time de futebol masculino ­– que tinha tudo para levar o ouro e errou horrívelmente na finalização –, ou como o time do volei masculino – que também estava com tudo para levar o ouro e foi surpreendido por um gigante russo poderoso, pois não tinha estratégia para enfrentar um elemento surpresa e não estudou bem o adversário. Quando não, o comportamento é o pior de todos e se assemelha ao da atleta de salto com vara Fabiana Murer – que desistiu da disputa por causa do vento e por achar perigoso saltar e se machucar.

Recentemente assistindo o seriado “Suits” da USA Network ­–  um dos raros que demonstra que existe vida inteligente na TV – , o advogado senior Harvey disse ao seu pupilo Michael Ross: “– Só existem dois tipos de pessoas: vencedores e perdedores. Os vencedores não arranjam desculpas quando o outro lado joga. Você precisa saber que tipo de pessoa você é. O bom advogado mantém o foco no caso, o ótimo no oponente.” É a pura verdade, a vida é competição e quem não se der conta disso esta fadado a ficar chorando miséria e colocando a culpa nos outros ou nas circunstâncias para justificar o seu fracasso, em vez de assumir que sua derrota é por pura falta de garra e de coragem para competir. Já vi e testemunhei muito disso. Houve o tempo em que o bode expiatório da incompetência brasileira para competir eram os EUA (1960), depois foi o Japão (1970), aí vieram os chamados “Tigres Asiáticos” (1980-90) e agora é a China, a inteira culpada pelo nosso pouco sucesso empreendedor, quando na verdade quem faz corpo mole é o empresariado brasileiro. Um empresariado que tenho que reconhecer que sofreu com as mazelas políticas do Estado brasileiro, nos anos JK (1956 – 1961) ­foram estimulados  a investir na construção de Brasília e no parque industrial brasileiro, vieram os militares em 1964 – colocados no poder pela elite do empresariado brasileiro –, tudo ia até que bem durante o chamado “milagre brasileiro” até que um espírito nacionalista tomou conta do governo militar e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) – uma autarquia fundada em 1952 –, fosse transformado numa empresa pública estatal e em vez de cumprir sua função de financiar os empreendimentos dos empresários e industriais, virou um devorador de empresas e industrias privadas, nacionalizando grande parte do sistema produtivo brasileiro. Assim a notícia de que este ou aquele empresário ou industrial tinha recorrido ao BNDES era o mesmo que dizer que ele tinha assinado a sentença de morte de seu negócio, ao comprometer-se com a dívida de um empréstimo junto ao BNDES que jamais conseguiria pagar do próprio bolso e também sem a possibilidade de recorrer a empréstimos externos ou a aceitar qualquer proposta estrangeira de fusão. Foi o período da estatização do Brasil, o qual veio a terminar a partir de 1990, com o governo de Fernando Collor de Mello, que deu início ao processo de desestatização, mas que em verdade veio a ocorrer de maneira intensa e temerária durante o governo de Fernando Henrique Cardosos, quando foi colocada uma placa de “VENDE-SE” no Brasil, e os estrangeiros compraram as empresas brasileiras a preço de banana. Apenas recentemente o BNDES tem tentado mudar a sua má fama e muito tem-se investido para que ele venha cumprir o propósito para o qual foi criado no passado. Por essa e por outras tantas confusões econômicas governamentais, o empresariado brasileiro adotou uma postura cautelosa e nada arrojada, porquanto como bem se diz popularmente “gato escaldado tem medo até de água fria”.

O mote que vem sendo usado de que “o brasileiro não desiste nunca”, pode ser até uma idéia que reflita o progresso em passo de tartaruga do Brasil – pois sem dúvida o brasileiro teve que ter muita paciência e perseverança para chegar ao sucesso conquistado dos dias atuais de uma estabilidade econômica e finanaceira, que jamais teve antes –, pois a experiência das turbulências do passado ensinaram que "desistir" não é  a solução de nada e por isso o Brasil agora exercite ainda mais sua perseverança num desenvolvimento gradual e sustentado. O empresariado tal como os atletas brasileiros sofrem com a ansiedade do desempenho, da mesma maneira eles temem o colapso de suas atividades apesar de terem o preparo adequado para enfrentarem o desafio. Como os nossos atletas também eles precisam relaxar, pois concentração demais como dizem os psicólogos pode fazer mais mal do que bem. Eles precisam igualmente aprender a tapear o próprio cérebro, que insiste em dar maior atenção às possibilidades de fracasso do que as chances de vitória, além disso eles devem aprender também a ligar o cérebro no “automático” e deixar ele fazer o que foi treinado para fazer. No caso da competição econômica, as experiências do passado para superar a adversidade criaram novas ferramentas para o desempenho empresarial tal como o uso de informações para análises e previsões, planejamento e estratégia e muitas outras. Certo é que após passar por tantas situações parecidas, essas acabam por parecer menos assustadoras e aprende-se a lidar  melhor com elas, com mais habilidade e capacidade de superação de circunstâncias adversas capazes de imobilizar o exercício competitivo. Portanto, o problema do empresariado brasileiro é mais de um necessário treino psicológico que o faça mais competitivo do que uma questão de circunstâncias econômicas tais como os juros ( que não são mais altos), os impostos (que estão sendo reduzidos), a flutuação do dólar, o sobe e desce da bolsa de valores, aumento ou diminuição de investimento externos, empréstimos (que hoje existe em abundância, até demasiada) e etc. e tal.

O brasileiro precisa entender uma coisa de maneira defenitiva,  o espírito de competição faz parte da natureza humana, não há nenhum pecado ou mal nele, se não fosse a competição o ser humano não teria progredido e até hoje estaria fadado a viver nas cavernas. Saber competir e vencer  com o uso da inteligência é que são elas. Pois, vencer uma competição roubando, fraudando, passando a perna, enganando, fazendo uso de todo tipo de desonestidade é fácil, qualquer idiota o faz, mas o resultado é este que nós estamos testemunhando em consequência da crise econômica de 2008 – 2009; os países antes cheios de arrogância com o Brasil estão por aqui, humildes passando o chapéu – aqueles mesmos que humilharam os imigrantes brasileiros os fazendo passar vergonha em seus países –, eles querem agora que o Brasil suavize seus compromissos financeiros ou até que empreste dinheiro para tirá-los do poço em que se enfiaram. Agora, são estes países que estão a beira do precipício e não o Brasil, por isso mesmo não podemos adotar o mal exemplo que eles nos deram no passado com sua concorrência desleal. O Brasil pode e deve concorrer, mostrando que é possível competir sem burlar as regras e as leis, para tanto o Brasil tem que adotar regras duras para coibir as práticas do lobby corruptivo e de concorrência desleal industrial, empresarial e comercial, como vem sendo praticado cotidianamente por algumas empresas estrangeiras e por aquelas brasileiras de capital estrangeiro, que consideram em sua presunção que o Brasil é uma terra de ninguém e que podem fazer aqui o que não poderiam fazer em seus países de origem. Do mesmo modo que o governo tem investido em nossos atletas também tem que investir em nossos empresários e industriais, principalmente dando-lhes não só meios financeiros e estabilidade econômica, mas como também suporte legal adequado para que possam competir com regras claras e não na base de privilégios governamentais em mudanças de regras e leis  convenientes mais ao capital estrangeiro do que ao capital brasileiro. Privilégios esses distribuidos a países que estejam a oferecer promessas de compensações momentâneas nas transações internacionais ou qualquer outro tipo de negócio duvidoso. Pois, pode-se afirmar com certeza, que a partir do instante em que o Brasil tiver consciência de seu potencial competitivo e aprender a usá-lo devidamente, vai parar com esse comportamento tolo de ser “amiguinho” de adversário, passará a ter  mais foco no seu oponente do que no caso das “maravilhas” do “grande” negócio ao melhor estilo do "ouro de tolo" que seu concorrente está a oferecer e aprenderá a defender primeiro o próprio interesse e imporá as suas próprias regras no jogo e não estará sujeito mais às regras que não são de sua conveniência.

Não basta o “gigante” ter despertado de seu sono e agora estar andando. O Brasil precisa precisa saber para onde vai e o que quer para seu futuro; se quer continuar sendo manipulado pelos interesses internacionais vampirescos ou se vai trilhar seu próprio caminho, tendo a coragem para entrar na arena mundial para competir para vencer . O Brasil precisa decidir que  tipo de país quer ser: se vencedor ou  se  perdedor.

 


segunda-feira, 6 de agosto de 2012

A TRINDADE: ÓDIO, INDIFEREÇA E AMOR

No dia 18 de julho último, eu estava vendo no canal GNT (Globo) o programa “Saia Justa” da jornalista Mônica Waldvogel, tendo na pauta dos debates o “ódio”, instigado pela ótima análise pragmática do filósofo Luiz Felipe Pondé, que levou os participantes Léo Jaime, Teté Ribeiro e o Xico Sá a discussão acalorada e pra lá de socrática com a Mônica. Foi simplesmente ótimo, mas debate foi uma bomba explodindo na minha cabeça, um verdadeiro despertar para uma conscientização do “valor” do ódio. Não estou falando do ÓDIO S/A, a multibilionária indústria que praticamente governa nosso mundo promovendo as intolerâncias de todo tipo e lucra com a venda de armas e drogas e levando ao derramamento de sangue em revoluções, guerrilhas e guerras. Não! Não falo da ÓDIO S/A, que escreve a história da humanidade há milênios e que vive combatendo a combalida e a beira da falência PAZ & AMOR CIA. LTDA. Não, não foi sobre este tipo de ódio que foi o debate, mas sim daquele “ódio nosso de cada dia”, aquele do qual ninguém gosta de falar e esconde em algum lugar bem escondidinho por conta da onda do perfil “bonzinho” politicamente correto e, como Xico Sá, já disse, que está transformando o mundo cultural e intelectual  numa “Fofolândia” (Cuteland) onde ninguém mais quer falar sério sobre assuntos que merecem e devem ser discutidos arduamente. 

Para que possamos compartilhar essa bomba mental que é sair do armário e encarar a realidade do nosso ódio cotidiano, eu convido vocês a assistirem o vídeo do comentário de Luiz Felipe Pondé, para que esse artigo seja mais enriquecedor tanto para mim como para vocês, meus leitores, disponível abaixo nos links:


youtube.com
27 jul. 2012 - 7 min - Vídeo enviado por RedeAtitude1
Ódio mostra a superioridade de um sobre o outro, a fraqueza, o "ir à forra"! ... Falam o ...
globotv.globo.com/gnt/saia-justa/v/...fala...odio.../2045348/ - Em cache
18 jul. 2012 ... Filósofo fala sobre o ato de odiar e ser objeto do ódio alheio ... Elenco dá as boas vindas à nova saia: Maria Fernanda Cândido 04:02 ...
Depois de assitir o programa, eu entrei na minha própria reflexão filosófica,  pois a minha primeira revelação foi que o ódio tinha sido o motor propulsor da minha vida muito mais do que o amor, que eu tanto defendo e defendi na minha recente postagem  "NÃO PERCA A FÉ!!!"  (clik para ler ). Como vocês podem perceber a expiação desse exame de consciência durou mais de duas semanas para que eu conseguisse digerir, internalizar e chegar a uma conclusão satisfatória quanto a um tema tão polêmico. 
Eu resolvi pesquisar, estudar e trocar idéias com as pessoas amigas sobre esse ódio do qual pouco ou nada se fala. Eu descobri que na busca do Google a popularidade da palavra AMOR é impressionante, conta com 910 milhões de entradas, enquanto a palavra ÓDIO aparece com 26 milhões, já a palavra INDIFERENÇA só tem 3 milhões e 180 mil de entradas. Apesar disso, no dia a dia de todos nós o que mais existe é o “ódio” que enche as manchetes dos noticiários jornalísticos e a nossa “indiferença” ao ler sobre a desgraceira alheia espalhada pelo mundo, pois NOTÍCIA BOA não dá lucro. Tem mais, no nosso come quieto diário nós remoemos ódio de uma maneira ou de outra por qualquer coisa, situação ou pessoa, e também somos indiferentes, pois não queremos nos incomodar em mudar as coisas do mundo.  Mas quando se sente aquele ódiozinho cotidiano não dá para ser indiferente. Por exemplo, eu tinha tanto ódio do trânsito de São Paulo que vendi o meu carro e preferi andar a pé; eu sentia também tanto ódio quando ia ao supermercado e via os preços subindo na maior especulação para explorar o consumidor, que resolvi comprar comida pronta no self-service, só no primeiro mês economizei R$ 100,00 com o gasto na alimentação mensal, e, além do mais eu estou comendo muito melhor e não tendo trabalho! Eu ficava com tanto ódio dos meus namorados que me traiam, que  eu decidi que não ia namorar mais! Vai precisar muito para eu levar algum homem a sério e ter algum tipo de compromisso novamente, já que a minha liberdade passou a ter um preço alto. E, assim vai.  Eu tive que assumir perante mim mesma, que durante minha vida eu afinal sentira muito mais ódio do que amor e que  esse “ódiozinho” sempre presente, afinal das contas, e, de uma certa maneira, ele tivera mais bons resultados do que o amor própriamente dito e levara-me a realizar muito mais do que eu sonhara. 
Por qual motivo, então, há uma censura velada nossa de se falar sobre ódio apesar dele ser com o amor e a indiferença também um sentimento primordial da essência humana?  
Basta ler a Bíblia. O Antigo Testamento parece ser uma narrativa exaltante do ÓDIO, apresentando o exercício da perseguição, seja dos judeus em relação aos outros povos, seja dos outros povos em relação aos judeus. Já o Novo Testamento, apresenta Jesus na defesa do AMOR, porém a leitura atenta dos evangelhos mostra que Jesus começou sua pregação cheio de amor para dar  e acabou com um chicote na mão espancando com raiva aqueles que haviam despertado seu ódio – por sinal se não fosse por esse episódio dramático, eu creio, que Jesus não teria sido preso e nem condenado a uma morte tão humilhante. Talvez seja por isso, por este paradoxo de Jesus, que Santo Agostinho e São Tomás de Aquino consideraram que é virtuoso odiar o pecado, mas um pecado odiar os pecadores.  Será? 
No famoso Sermão da Montanha, que deu início a sua pregação Jesus disse: “Tendes ouvido o que foi dito: “Amarás o teu próximo e poderás odiar seu inimigo”. Eu porém, vos digo: Amai vossos inimigos, orai pelos que vos maltratam e vos perseguem. Deste modo sereis os filhos de vosso Pai do céu, pois ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos. Se amais somente os que vos amam que recompensa tereis? ”(Mt. 5: 43 – 46). Tempos depois, logo após sua entrada triunfal em Jerusalém, que culminou com a explosão de raiva dele no Templo – episódio esse que só mereceu dois versículos nos evangelhos, sendo que no de João nem é mencionado –,  Jesus fez outro discurso para uma multidão. Logo após ter exaltado o mandamento “Amarás teu próximo como a ti mesmo” – constante do livro do Levítico (19:18) do Antigo Testamento, Jesus não mediu palavras, as usando como uma espada contra os escribas e fariseus, os chamando de hipócritas e lançando uma série de maldições sobre eles (Ops! Não era para amar os inimigos?). A verdade que se pode constatar lendo os evangelhos, é que Jesus estava cheio de esperança e amor no início de sua pregação, mas com a passagem do tempo é observável que ele vai se frustrando cada vez mais em razão da falta de entendimento e compreensão das suas palavras. Ele fica tão aborrecido que chega a chamar seu discípulo Pedro de Satanás algumas vezes, em outra lança seu ódio sobre uma pobre figueira infrutífera, a qual ficaria seca com ódio dele – dos males o menor, foi melhor a raiva dele ter caído sobre a figueira do que Jerusalém ter sido destruída como Sodoma e Gomorra! Em outras ocasiões Jesus recolhia-se na sua solidão para rezar e possivelmente para acalmar sua desilusão com as pessoas,  ou, talvez, o seu ódio recolhido por ser incompreendido. Afinal, segundo Sigmundo Freud, o pai da psicanálise, o ódio é um estado do ego que deseja destruir a fonte de sua infelicidade. Portanto não era essa a vontade de Jesus? Não queria ele afastar as pessoas do pecado? Conclui-se que o ódio em relação ao pecado é um ódio justificado. Mas, como não se pode   odiar o agente do pecado? Se fosse assim Jesus amaria Satanás, e teria ficado íntimo amigo dos “hipócritas” dos escribas e fariseus, e  não teria dado chibatada e nem derrubado as bancas dos comerciantes do Templo, mas  pedido que eles saissem dalí "por favor". O paradoxo de Jesus é um caso para se pensar e muito. O problema é que todo mundo considera quase sempre seu próprio ódio como justificado, não importanto a quem ou a quê é dirigido! 
Mas, afinal o que é o ódio? A maioria dos pensadores concordam que o ódio é um afeto tão primitivo quanto o amor. É um sentimento que pode ser causado pela sensação de aversão ou repulsa a algo, alguém ou atitude que desperta o interesse profundo naquele que sente um estado de antipatia,  por causa de mágoa ou de frustração íntima.  Nós somos só capazes de odiar algo ou alguém que é importante para nós, que seja capaz de despertar algum tipo de afeição, caso isso não aconteça, nós seremos indiferentes e teremos um estado de apatia Eis o motivo pelo qual o filósofo Luiz Felipe Pondé defendeu tão bem a idéia de que o ódio não é o sentimento oposto do amor na concepção dualista, mas sim a INDIFERENÇA, que é a falta de afeição, ou seja a falta de amor, por conseguinte a indiferença  também é o sentimento oposto ao ódio, pois a indiferença é ausência de ódio. De Aristóteles a Renée Descartes e a Baruch Spinoza, os pensadores parecem concordar que o ódio é um sentimento de inimizade muito expontâneo, impulsivo e afetivo. David Hume reconheceu a dificuldade de compreender o ódio e disse que o ódio é um sentimento irredutível que não é definido de todo. 
Pois é, não é fácil mesmo entender sentimentos como o ÓDIO, a INDIFERENÇA e o AMOR, já que eles são de tal maneira profundos e arraigados no íntimo humano que parecem até instintivos e, apesar de todos os estudos, nós não sabemos bem ainda como eles são despertados, mas conhecemos as emoções que deles se manifestam. O  ódio origina-se na antipadia e  exterioriza-se na emoção de raiva que pode ser reprimida ou manifesta com violência de menor ou maior grau; a indiferença é reconhecida pela ausência de emoção e o amor é motivado pelos estados de simpatia ou empatia e manifesta-se numa sensação de apego afetuoso que gera contentamento ao íntimo. Não seria errado dizer que os sentimentos de AMOR e ÓDIO são os sentimentos propulsivos da energia que move as nossas ações, com maior ou menor intensidade, e que a INDIFERENÇA seria uma espécie de ponto morto, incapaz de promover ações diretas do sujeito, todavia é capaz de levar a ações indiretas, já que pode provocar amor ou ódio naquele que estiver sujeito a indiferença, pois do ponto de vista daquele que sofre a indiferença, a inexistência de emoção no outro é o mesmo que ser ignorado, inexistente, invisível, o que para alguns pode ser muito humilhante ao ego e para outros um desafio a ser vencido para se fazer notar ou conquistar a atenção de quem deseja. 
Assim, quando eu tomei consciência  do valor do ódio – bastante tardiamente em razão da severa educação cultural que o condena e o reprime  –  e de sua importância na minha vida, eu cheguei a conclusão que o ódio que muitas vezes eu senti seria justificado na mesma medida em que eu obtive desse sentimento resultados mais benéficos do que nocívos, isso porque eu sempre observei que é possível transformar algo que me parece ser um mal num bem – coisa bem de virginiana maluca que adora arrumar ou consertar qualquer coisa, mesmo quando não tem jeito! E, eu observei também que, até  eu consegui transformar um inimigo circunstancial num amigo uma vez ou outra, pois com o passar do tempo e mudança das circunstância desaparecia  a causa da nossa inimizade. Porém, nunca consegui fazer de um inimigo gratuíto um amigo, pois saber-se odiado leva à reciprocidade e o ódio mútuo é um impeditivo para qualquer conciliação. O ódio nunca me despertou uma raiva vingativa ou daquele tipo violenta e destruidora contra meus opressores, opositores, rivais ou inimigos, mas um desejo temporário muito grande de desforra ou, em razão da minha fé na justiça de Deus, um desejo firme e duradouro, por anos e anos seguidos, para obter um desagravo. Na  dedicatória do meu primeiro livro, “O Observador” (não publicado), de 1986, eu escreví: “Agradeço a todos os amigos o apoio e o estímulo que me deram nas horas difíceis. No entanto, eu devo também agradecer muito mais ainda aos meus inimigos, pois são os que nos ferem, mas não nos matam, aqueles que nos ensinam realmente a viver.” E,  vejam só, em 1986 eu estava só no início da minha batalha contra adversidades da vida, e inimigos nunca me faltaram… Eu reconheço que é minha culpa, pois não sou o tipo de pessoa que os outros passem por mim indiferentes – antes não fosse assim –­, ou me amam ou me odeiam com toda a intensidade. 
Um dia um amigo meu me disse algo divertido a respeito disso, que os inimigos permaneciam sempre numa fidelidade ferrenha e duradoura, e que o mesmo não se podia dizer dos amigos, e encerrou ele dizendo: "Nada mais fiel que um inimigo, Bia!" Eu pude comprovar o quanto ele estava certo. Eu nunca perdi um inimigo – só por falecimento – , mas perdi praticamente todos meus amigos nos anos de vacas magras e muitos estão vivos por aí.  Assim, contínuo agradecendo aos meus poucos e raros inimigos atuais, pois a fidelidade do ódio deles é mais fiel do que qualquer amor que eu tenha recebido de alguém nessa vida, e divirto-me com a importância que ainda me dão, a ponto de se incomodarem comigo e destilarem seus venenos.  O ódio deles pode causar alguns aborrecimentos ou obstáculos ao meu progresso, mas as cutucadas hoje não me causam mais tanta frustração ou mágoa, nem fazem-me alimentar um ódio íntimo reprimido por longo tempo, nem mesmo mais eu fico chorando com autocomiseração cheia de pena de mim mesma, logo descubro-me rindo das bobagens que as pessoas são capazes de fazer quando são movidas pela má administração do seu ódio de cada dia. Eu dou a volta por cima, pego o ódio deles misturo com o meu ódio e faço um combustível de primeira para alimentar meu avanço em direção aos meus objetivos. Eu tomo novas atitudes, renovo minhas estratégias, mudo o que eu preciso mudar e ponho o pé  fundo no acelerador e dou uma direção firme e forte para realização dos meus desejos, e eu fico espantada com os bons resultados que acabo obtendo e eu chego quase a  compreender por qual motivo Jesus disse para amarmos nossos inimigos! Afinal, eles podem fazer com que nos tornemos pessoas melhores. Afinal, também, se não fosse por conta dos inimigos traiçoeiros e maldosos, Jesus não teria morrido e ressucitado, e ele não teria sido glorificado por Deus e pela maioria da Humanidade. Provavelmente, Jesus teria sido um anônimo sem interesse, não teria recebido o apadrinhamento ideológico religioso do poderoso Império Romano e seus não teriam sido perpetuados por mais de dois mil anos. (Aleluia! Deus escreve certo por linhas tortas, com certeza!) 
Agora, então, com essa plena conscientização do valor do ódio na minha vida, eu vou poder odiar de maneira consciente e responsável. Eu vou poder usar essa forte energia a meu favor para implementar a minha vida e fazê-la muito melhor. Eu não vou me culpar mais por sentir ódio, pois, ele pode ser mesmo positivo e mesmo estimulante ao instigar-me em busca de novos horizontes. Nesse período de “ odiar ou não odiar, eis a questão” eu cheguei também a uma conclusão curiosa, que a empolgação de nossas emoções causadas seja pelo AMOR ou pelo ÓDIO, sempre pode passar em uma semana e cair no ponto morto da INDIFERENÇA. Basta para isso parar um pouco e perguntar qual é a real importância da pessoa, daquilo ou da situação que está mexendo com você para a sua vida. Se você responder com inteira sinceridade, você irá descobrir que na maioria das vezes nos importamos com coisas que não possuem a menor importância e deixamos de nos importar com aquelas que realmente devíamos nos importar, ou seja, fazemos mal uso do sentimento de indiferença e ficamos feito malucos nos atordoando com os sentimentos dos extremos: o amor ou o ódio. Fica aqui um conselho para uma vida mais harmônica e saudável; dê um tempo sempre para você  pensar nos seus sentimentos, para assim percebê-los e observá-los melhor, e descobrir mais sobre você mesmo, essa pessoa que você mal conhece, a qual você vê o exterior dela no reflexo do espelho todo dia e alimenta a sua vaidade, mas não olha para o que há dentro dela, não é? Você que estar sempre no contôle da sua vida,  você quer ter as rédeas do seu destino, mas se você não sabe nem lidar com seus sentimentos, como é que você vai conseguir isso? Uma sugestão: procure estar mais consciente do que você ama e do que você odeia e onde você precisa ser indiferente, e não tenha medo de entrar em contato com estes seus sentimentos mais profundos, eles são a bússula de navegação da sua vida, eles poderão levar você para a direção certa de uma vida plena de realização pessoal e mais feliz, se você souber administrá-los tão bem quanto você cuida da sua aparência ou da sua competência profissional.