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segunda-feira, 6 de agosto de 2012

A TRINDADE: ÓDIO, INDIFEREÇA E AMOR

No dia 18 de julho último, eu estava vendo no canal GNT (Globo) o programa “Saia Justa” da jornalista Mônica Waldvogel, tendo na pauta dos debates o “ódio”, instigado pela ótima análise pragmática do filósofo Luiz Felipe Pondé, que levou os participantes Léo Jaime, Teté Ribeiro e o Xico Sá a discussão acalorada e pra lá de socrática com a Mônica. Foi simplesmente ótimo, mas debate foi uma bomba explodindo na minha cabeça, um verdadeiro despertar para uma conscientização do “valor” do ódio. Não estou falando do ÓDIO S/A, a multibilionária indústria que praticamente governa nosso mundo promovendo as intolerâncias de todo tipo e lucra com a venda de armas e drogas e levando ao derramamento de sangue em revoluções, guerrilhas e guerras. Não! Não falo da ÓDIO S/A, que escreve a história da humanidade há milênios e que vive combatendo a combalida e a beira da falência PAZ & AMOR CIA. LTDA. Não, não foi sobre este tipo de ódio que foi o debate, mas sim daquele “ódio nosso de cada dia”, aquele do qual ninguém gosta de falar e esconde em algum lugar bem escondidinho por conta da onda do perfil “bonzinho” politicamente correto e, como Xico Sá, já disse, que está transformando o mundo cultural e intelectual  numa “Fofolândia” (Cuteland) onde ninguém mais quer falar sério sobre assuntos que merecem e devem ser discutidos arduamente. 

Para que possamos compartilhar essa bomba mental que é sair do armário e encarar a realidade do nosso ódio cotidiano, eu convido vocês a assistirem o vídeo do comentário de Luiz Felipe Pondé, para que esse artigo seja mais enriquecedor tanto para mim como para vocês, meus leitores, disponível abaixo nos links:


youtube.com
27 jul. 2012 - 7 min - Vídeo enviado por RedeAtitude1
Ódio mostra a superioridade de um sobre o outro, a fraqueza, o "ir à forra"! ... Falam o ...
globotv.globo.com/gnt/saia-justa/v/...fala...odio.../2045348/ - Em cache
18 jul. 2012 ... Filósofo fala sobre o ato de odiar e ser objeto do ódio alheio ... Elenco dá as boas vindas à nova saia: Maria Fernanda Cândido 04:02 ...
Depois de assitir o programa, eu entrei na minha própria reflexão filosófica,  pois a minha primeira revelação foi que o ódio tinha sido o motor propulsor da minha vida muito mais do que o amor, que eu tanto defendo e defendi na minha recente postagem  "NÃO PERCA A FÉ!!!"  (clik para ler ). Como vocês podem perceber a expiação desse exame de consciência durou mais de duas semanas para que eu conseguisse digerir, internalizar e chegar a uma conclusão satisfatória quanto a um tema tão polêmico. 
Eu resolvi pesquisar, estudar e trocar idéias com as pessoas amigas sobre esse ódio do qual pouco ou nada se fala. Eu descobri que na busca do Google a popularidade da palavra AMOR é impressionante, conta com 910 milhões de entradas, enquanto a palavra ÓDIO aparece com 26 milhões, já a palavra INDIFERENÇA só tem 3 milhões e 180 mil de entradas. Apesar disso, no dia a dia de todos nós o que mais existe é o “ódio” que enche as manchetes dos noticiários jornalísticos e a nossa “indiferença” ao ler sobre a desgraceira alheia espalhada pelo mundo, pois NOTÍCIA BOA não dá lucro. Tem mais, no nosso come quieto diário nós remoemos ódio de uma maneira ou de outra por qualquer coisa, situação ou pessoa, e também somos indiferentes, pois não queremos nos incomodar em mudar as coisas do mundo.  Mas quando se sente aquele ódiozinho cotidiano não dá para ser indiferente. Por exemplo, eu tinha tanto ódio do trânsito de São Paulo que vendi o meu carro e preferi andar a pé; eu sentia também tanto ódio quando ia ao supermercado e via os preços subindo na maior especulação para explorar o consumidor, que resolvi comprar comida pronta no self-service, só no primeiro mês economizei R$ 100,00 com o gasto na alimentação mensal, e, além do mais eu estou comendo muito melhor e não tendo trabalho! Eu ficava com tanto ódio dos meus namorados que me traiam, que  eu decidi que não ia namorar mais! Vai precisar muito para eu levar algum homem a sério e ter algum tipo de compromisso novamente, já que a minha liberdade passou a ter um preço alto. E, assim vai.  Eu tive que assumir perante mim mesma, que durante minha vida eu afinal sentira muito mais ódio do que amor e que  esse “ódiozinho” sempre presente, afinal das contas, e, de uma certa maneira, ele tivera mais bons resultados do que o amor própriamente dito e levara-me a realizar muito mais do que eu sonhara. 
Por qual motivo, então, há uma censura velada nossa de se falar sobre ódio apesar dele ser com o amor e a indiferença também um sentimento primordial da essência humana?  
Basta ler a Bíblia. O Antigo Testamento parece ser uma narrativa exaltante do ÓDIO, apresentando o exercício da perseguição, seja dos judeus em relação aos outros povos, seja dos outros povos em relação aos judeus. Já o Novo Testamento, apresenta Jesus na defesa do AMOR, porém a leitura atenta dos evangelhos mostra que Jesus começou sua pregação cheio de amor para dar  e acabou com um chicote na mão espancando com raiva aqueles que haviam despertado seu ódio – por sinal se não fosse por esse episódio dramático, eu creio, que Jesus não teria sido preso e nem condenado a uma morte tão humilhante. Talvez seja por isso, por este paradoxo de Jesus, que Santo Agostinho e São Tomás de Aquino consideraram que é virtuoso odiar o pecado, mas um pecado odiar os pecadores.  Será? 
No famoso Sermão da Montanha, que deu início a sua pregação Jesus disse: “Tendes ouvido o que foi dito: “Amarás o teu próximo e poderás odiar seu inimigo”. Eu porém, vos digo: Amai vossos inimigos, orai pelos que vos maltratam e vos perseguem. Deste modo sereis os filhos de vosso Pai do céu, pois ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos. Se amais somente os que vos amam que recompensa tereis? ”(Mt. 5: 43 – 46). Tempos depois, logo após sua entrada triunfal em Jerusalém, que culminou com a explosão de raiva dele no Templo – episódio esse que só mereceu dois versículos nos evangelhos, sendo que no de João nem é mencionado –,  Jesus fez outro discurso para uma multidão. Logo após ter exaltado o mandamento “Amarás teu próximo como a ti mesmo” – constante do livro do Levítico (19:18) do Antigo Testamento, Jesus não mediu palavras, as usando como uma espada contra os escribas e fariseus, os chamando de hipócritas e lançando uma série de maldições sobre eles (Ops! Não era para amar os inimigos?). A verdade que se pode constatar lendo os evangelhos, é que Jesus estava cheio de esperança e amor no início de sua pregação, mas com a passagem do tempo é observável que ele vai se frustrando cada vez mais em razão da falta de entendimento e compreensão das suas palavras. Ele fica tão aborrecido que chega a chamar seu discípulo Pedro de Satanás algumas vezes, em outra lança seu ódio sobre uma pobre figueira infrutífera, a qual ficaria seca com ódio dele – dos males o menor, foi melhor a raiva dele ter caído sobre a figueira do que Jerusalém ter sido destruída como Sodoma e Gomorra! Em outras ocasiões Jesus recolhia-se na sua solidão para rezar e possivelmente para acalmar sua desilusão com as pessoas,  ou, talvez, o seu ódio recolhido por ser incompreendido. Afinal, segundo Sigmundo Freud, o pai da psicanálise, o ódio é um estado do ego que deseja destruir a fonte de sua infelicidade. Portanto não era essa a vontade de Jesus? Não queria ele afastar as pessoas do pecado? Conclui-se que o ódio em relação ao pecado é um ódio justificado. Mas, como não se pode   odiar o agente do pecado? Se fosse assim Jesus amaria Satanás, e teria ficado íntimo amigo dos “hipócritas” dos escribas e fariseus, e  não teria dado chibatada e nem derrubado as bancas dos comerciantes do Templo, mas  pedido que eles saissem dalí "por favor". O paradoxo de Jesus é um caso para se pensar e muito. O problema é que todo mundo considera quase sempre seu próprio ódio como justificado, não importanto a quem ou a quê é dirigido! 
Mas, afinal o que é o ódio? A maioria dos pensadores concordam que o ódio é um afeto tão primitivo quanto o amor. É um sentimento que pode ser causado pela sensação de aversão ou repulsa a algo, alguém ou atitude que desperta o interesse profundo naquele que sente um estado de antipatia,  por causa de mágoa ou de frustração íntima.  Nós somos só capazes de odiar algo ou alguém que é importante para nós, que seja capaz de despertar algum tipo de afeição, caso isso não aconteça, nós seremos indiferentes e teremos um estado de apatia Eis o motivo pelo qual o filósofo Luiz Felipe Pondé defendeu tão bem a idéia de que o ódio não é o sentimento oposto do amor na concepção dualista, mas sim a INDIFERENÇA, que é a falta de afeição, ou seja a falta de amor, por conseguinte a indiferença  também é o sentimento oposto ao ódio, pois a indiferença é ausência de ódio. De Aristóteles a Renée Descartes e a Baruch Spinoza, os pensadores parecem concordar que o ódio é um sentimento de inimizade muito expontâneo, impulsivo e afetivo. David Hume reconheceu a dificuldade de compreender o ódio e disse que o ódio é um sentimento irredutível que não é definido de todo. 
Pois é, não é fácil mesmo entender sentimentos como o ÓDIO, a INDIFERENÇA e o AMOR, já que eles são de tal maneira profundos e arraigados no íntimo humano que parecem até instintivos e, apesar de todos os estudos, nós não sabemos bem ainda como eles são despertados, mas conhecemos as emoções que deles se manifestam. O  ódio origina-se na antipadia e  exterioriza-se na emoção de raiva que pode ser reprimida ou manifesta com violência de menor ou maior grau; a indiferença é reconhecida pela ausência de emoção e o amor é motivado pelos estados de simpatia ou empatia e manifesta-se numa sensação de apego afetuoso que gera contentamento ao íntimo. Não seria errado dizer que os sentimentos de AMOR e ÓDIO são os sentimentos propulsivos da energia que move as nossas ações, com maior ou menor intensidade, e que a INDIFERENÇA seria uma espécie de ponto morto, incapaz de promover ações diretas do sujeito, todavia é capaz de levar a ações indiretas, já que pode provocar amor ou ódio naquele que estiver sujeito a indiferença, pois do ponto de vista daquele que sofre a indiferença, a inexistência de emoção no outro é o mesmo que ser ignorado, inexistente, invisível, o que para alguns pode ser muito humilhante ao ego e para outros um desafio a ser vencido para se fazer notar ou conquistar a atenção de quem deseja. 
Assim, quando eu tomei consciência  do valor do ódio – bastante tardiamente em razão da severa educação cultural que o condena e o reprime  –  e de sua importância na minha vida, eu cheguei a conclusão que o ódio que muitas vezes eu senti seria justificado na mesma medida em que eu obtive desse sentimento resultados mais benéficos do que nocívos, isso porque eu sempre observei que é possível transformar algo que me parece ser um mal num bem – coisa bem de virginiana maluca que adora arrumar ou consertar qualquer coisa, mesmo quando não tem jeito! E, eu observei também que, até  eu consegui transformar um inimigo circunstancial num amigo uma vez ou outra, pois com o passar do tempo e mudança das circunstância desaparecia  a causa da nossa inimizade. Porém, nunca consegui fazer de um inimigo gratuíto um amigo, pois saber-se odiado leva à reciprocidade e o ódio mútuo é um impeditivo para qualquer conciliação. O ódio nunca me despertou uma raiva vingativa ou daquele tipo violenta e destruidora contra meus opressores, opositores, rivais ou inimigos, mas um desejo temporário muito grande de desforra ou, em razão da minha fé na justiça de Deus, um desejo firme e duradouro, por anos e anos seguidos, para obter um desagravo. Na  dedicatória do meu primeiro livro, “O Observador” (não publicado), de 1986, eu escreví: “Agradeço a todos os amigos o apoio e o estímulo que me deram nas horas difíceis. No entanto, eu devo também agradecer muito mais ainda aos meus inimigos, pois são os que nos ferem, mas não nos matam, aqueles que nos ensinam realmente a viver.” E,  vejam só, em 1986 eu estava só no início da minha batalha contra adversidades da vida, e inimigos nunca me faltaram… Eu reconheço que é minha culpa, pois não sou o tipo de pessoa que os outros passem por mim indiferentes – antes não fosse assim –­, ou me amam ou me odeiam com toda a intensidade. 
Um dia um amigo meu me disse algo divertido a respeito disso, que os inimigos permaneciam sempre numa fidelidade ferrenha e duradoura, e que o mesmo não se podia dizer dos amigos, e encerrou ele dizendo: "Nada mais fiel que um inimigo, Bia!" Eu pude comprovar o quanto ele estava certo. Eu nunca perdi um inimigo – só por falecimento – , mas perdi praticamente todos meus amigos nos anos de vacas magras e muitos estão vivos por aí.  Assim, contínuo agradecendo aos meus poucos e raros inimigos atuais, pois a fidelidade do ódio deles é mais fiel do que qualquer amor que eu tenha recebido de alguém nessa vida, e divirto-me com a importância que ainda me dão, a ponto de se incomodarem comigo e destilarem seus venenos.  O ódio deles pode causar alguns aborrecimentos ou obstáculos ao meu progresso, mas as cutucadas hoje não me causam mais tanta frustração ou mágoa, nem fazem-me alimentar um ódio íntimo reprimido por longo tempo, nem mesmo mais eu fico chorando com autocomiseração cheia de pena de mim mesma, logo descubro-me rindo das bobagens que as pessoas são capazes de fazer quando são movidas pela má administração do seu ódio de cada dia. Eu dou a volta por cima, pego o ódio deles misturo com o meu ódio e faço um combustível de primeira para alimentar meu avanço em direção aos meus objetivos. Eu tomo novas atitudes, renovo minhas estratégias, mudo o que eu preciso mudar e ponho o pé  fundo no acelerador e dou uma direção firme e forte para realização dos meus desejos, e eu fico espantada com os bons resultados que acabo obtendo e eu chego quase a  compreender por qual motivo Jesus disse para amarmos nossos inimigos! Afinal, eles podem fazer com que nos tornemos pessoas melhores. Afinal, também, se não fosse por conta dos inimigos traiçoeiros e maldosos, Jesus não teria morrido e ressucitado, e ele não teria sido glorificado por Deus e pela maioria da Humanidade. Provavelmente, Jesus teria sido um anônimo sem interesse, não teria recebido o apadrinhamento ideológico religioso do poderoso Império Romano e seus não teriam sido perpetuados por mais de dois mil anos. (Aleluia! Deus escreve certo por linhas tortas, com certeza!) 
Agora, então, com essa plena conscientização do valor do ódio na minha vida, eu vou poder odiar de maneira consciente e responsável. Eu vou poder usar essa forte energia a meu favor para implementar a minha vida e fazê-la muito melhor. Eu não vou me culpar mais por sentir ódio, pois, ele pode ser mesmo positivo e mesmo estimulante ao instigar-me em busca de novos horizontes. Nesse período de “ odiar ou não odiar, eis a questão” eu cheguei também a uma conclusão curiosa, que a empolgação de nossas emoções causadas seja pelo AMOR ou pelo ÓDIO, sempre pode passar em uma semana e cair no ponto morto da INDIFERENÇA. Basta para isso parar um pouco e perguntar qual é a real importância da pessoa, daquilo ou da situação que está mexendo com você para a sua vida. Se você responder com inteira sinceridade, você irá descobrir que na maioria das vezes nos importamos com coisas que não possuem a menor importância e deixamos de nos importar com aquelas que realmente devíamos nos importar, ou seja, fazemos mal uso do sentimento de indiferença e ficamos feito malucos nos atordoando com os sentimentos dos extremos: o amor ou o ódio. Fica aqui um conselho para uma vida mais harmônica e saudável; dê um tempo sempre para você  pensar nos seus sentimentos, para assim percebê-los e observá-los melhor, e descobrir mais sobre você mesmo, essa pessoa que você mal conhece, a qual você vê o exterior dela no reflexo do espelho todo dia e alimenta a sua vaidade, mas não olha para o que há dentro dela, não é? Você que estar sempre no contôle da sua vida,  você quer ter as rédeas do seu destino, mas se você não sabe nem lidar com seus sentimentos, como é que você vai conseguir isso? Uma sugestão: procure estar mais consciente do que você ama e do que você odeia e onde você precisa ser indiferente, e não tenha medo de entrar em contato com estes seus sentimentos mais profundos, eles são a bússula de navegação da sua vida, eles poderão levar você para a direção certa de uma vida plena de realização pessoal e mais feliz, se você souber administrá-los tão bem quanto você cuida da sua aparência ou da sua competência profissional.

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