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terça-feira, 8 de maio de 2012

"NÃO PERCA A FÉ!!!"


Dente-de-Leão
Como toda criança eu nasci cheia dessa energia misteriosa que impulsiona a vida, a FÉ. Quando em um tempo de conflitos psicológicos eu procurei uma analísta para me ajudar a superá-los, pois bons conselhos naquela época era tudo o que eu mais precisava, ela se admirou como eu poderia ter na minha memória recordações tão vívidas da minha tenra infância. Minhas recordações datam desde os meus dois meses de idade, e isso realmente não é normal. Desde pequenina eu percebi a existência dessa sensação de fé, a qual ganhava força quando eu brincava com os raios de sol ou quando ficava observando a minha flor preferida: o dente-de-leão.

Sementes ao vento
Essa florzinha me parecia um sol em miniatura, e quando um dia eu ví a flor se transformar numa bolinha branca que parecia fiapos de algodão, eu me admirei, e quando soprei a bolinha e seus fiapos sairam voando pelo ar, eu me encantei inteiramente. E toda vez que eu me recordo da minha infância eu penso no dente-de-leão. Quando eu era criança os gramados vizinhos ao Parque Trianon, ali na Av. Paulista, ficavam salpicados de amarelo com os dentes-de-leão, mas hoje em dia essa florzinha tão singela se tornou muito rara de se ver, mas sempre que a vejo a menininha em mim sorri.

Quando menininha...
Contudo, igual a todas as crianças logo os choques com a o mundo começaram a solapar essa sensação tão boa que só a verdadeira FÉ dá. A descoberta das dores que o mundo oferece gratuitamente começou muito cedo para mim, com a leucemia da minha melhor amiguinha e a sua morte, quando eu tinha apenas cinco anos. Em seguida a esta perda brutal, minha mãe ficou muito doente e o medo de perdê-la era tão grande que eu fazia tudo que estava ao meu alcance para ela se recuperar e não morrer. Por dois anos seguidos eu cuidei dela com desvelo. Quando mamãe finalmente se recuperou, eu já não era mais a mesma criança, pois não pensava mais como criança, apesar de ser ainda uma menininha na minha aparência. Sem dúvida o enorme problema emocional trazido pela consciência da morte durante o período de alfabetização foi a causa de eu me tornar uma troca letras de primeira grandeza, consequentemente minhas professoras achavam que eu tinha um leve retardamento mental. Não ocorria a elas que eu tinha algo muito mais importante para pensar: como seria possível vencer a morte.

Primeira Comunhão
Na sala do nosso apartamento tinha uma Bíblia encardenada em dois volumes com lindas gravuras, e durante a doença de mamãe eu pegava aqueles livros não só para ver as figuras – muitas delas aterrorizantes para uma criança –, mas para tentar ler as histórias ali contadas. Eu podia não falar direito, mas desde cedo sabia ler muito bem, e assim durante aqueles dois anos eu lí pela primeira vez a Bíblia. Na mesma época eu já frequentava o colégio de freiras francesas da ordem de Santo Agostinho, e em razão do meu péssimo desempenho na alfabetização e do meu difícil relacionamento com minhas coleguinhas, eu passei a me refugiar na capela durante os recreios, onde eu ficava pedindo a Deus que curasse a minha mãe. Sem dúvida Deus ouviu minhas orações e por isso a partir da cura da mamãe minha devoção à Deus aumentou grandemente. Talvez por isso, quando chegou o tempo de me preparar para a minha Primeira Comunhão, eu já tinha dentro de mim uma forte convicção religiosa, só que com a minha própria concepção de Deus e de Jesus, a qual não tinha nada a ver com o que as freiras queriam que eu acreditasse. Minha maior resistência foi a de “confessar meus pecados”, eu destemida afirmei ao padre da Igreja São José que “crianças não têm pecado”, e que se pecavam era por causa dos adultos, que as levavam ao pecado. E, ainda perguntei ao padre, se ele não tinha lido o que Jesus dissera sobre as crianças, e como ele queria que eu mentisse, dizendo que eu havia pecado quando eu não pecara. Isso sim seria um pecado!!!  

Igreja São José
Assim eu fiz minha Primeira Comunhão aos trancos e barrancos, deixando as freiras escandalizadas com as minhas “idéias próprias”, enquanto que o padre, para meu total espanto, deu seu veredito: eu era uma criança precocemente religiosa e deveria ser tratada com cuidado pelas freiras. Que felicidade! Isso me abriu as portas do Paraíso naquela escola e deixei de ser tratada como a criança mais burra de todas e meus erros de português passaram a ser relevados enquanto que o meu desempenho em matemática e outras matérias passaram a ser observados como prova inefável da minha boa capacidade. Aos nove anos, o padre contemplou-me com a medalha da Ordem do Coração de Jesus, apesar que no íntimo eu quisesse ser da Ordem do Coração de Maria, mas segundo ele meu amor por Jesus era incomparavelmente maior, e deveria seguir meu coração. Ele estava certo. Alguns anos mais tarde, aos treze anos, minha dedicação à Jesus era absoluta e meu maior prazer era ler em voz alta nas missas diárias matinais as passagens dos Evangelhos, e quando eu fazia as leituras eu podia sentir meu coração arder de tanta fé.

Raio de Sol                                                               by  Bia/1981
A vida religiosa de uma freira era a minha vocação natural, era o meu desejo maior servir a Jesus e ajudar as pessoas em seus sofrimentos. Porém, quando manifestei essa vontade à minha madre superiora, pedindo a ela que me encaminhasse para ser noviça na ordem de Santo Agostinho, a resposta dela foi a mais absurda que eu poderia ouvir: “Bia, infelizmente, isso não será possível. Você é bonita demais e inteligente demais para entrar num convento. A vida religiosa não foi feita para você.”­  Ela só veio a ter idéia do mal que ela me fizera anos mais tarde, quando eu levei meu filhinho recém-nascido para ela conhecer, e ela lamentou por não ter me recomendado para ser noviça, por que naquele tempo para a Igreja Católica  eu ter tido um filho de um desquitado – e, não contente, ter separado grávida do pai dele, o que  eu fizera aconselhada pelo Frei Beijamim – era um “pecado” digno da excomunhão, para ela eu era uma horrível “pecadora”. Bom, se assim o fosse, Maria mãe de Jesus teria morrido apedrejada e Maria Madalena não teria sido a discípula amada dele. Então, eu disse a ela, que eu chegara a conclusão que “não pecar trancada num convento era fácil, mas enfrentar o pecado convivendo com o mundo é que era o verdadeiro desafio.” Ora, faça-me o favor, desde quando defender a VIDA de um filho seria pecado? Como uma criancinha recém-nascida poderia ter pecado?

Acontecera que a partir do momento que o direito de realizar a minha vocação religiosa fora por ela negado, eu me senti de tal maneira rejeitada pela Igreja Católica, que passei a questioná-la duramente, dia após dia eu fui me afastando da prática religiosa, pois na mesma medida que eu ampliava minha racionalidade e meu conhecimento, eu discordava mais e mais dos ensinamentos oferecidos pelo catolicismo romano. E, assim eu fui abraçando um mundo materialista e elegendo a Razão como minha bússula de vida. Nesse tempo eu me tornei uma moça bonita e popular e fiquei sujeita também às questões mundanas. O resultado não foi dos melhores, eu tinha abandonado minhas convicções, minhas crenças e tudo mais, eu me rebelei contra a moral vigente e, ao mesmo tempo, sem me dar conta disso, eu acabei sendo mais o que as outras pessoas queriam que eu fosse do que ser quem eu realmente era. Assim de “santinha” eu me tornei uma ovelha negra desgarrada do rebanho e aquela fé que um dia animara meu coração com tanto fervor, simplesmente foi desaparecendo.

Dos meus 17 anos aos meus 27 anos, eu vivi tudo o que o mundo tinha para me oferecer de bom e de ruim. Minha vida era repleta de altos e baixos, parecia uma verdadeira montanha-russa, como se o meu destino fosse completamente sem sentido e bastante absurdo. Eu podia ter de tudo, mas meu coração era sombrio e repleto de tristeza. E foi nessa condição de desencanto e infelicidade que no dia 14 de fevereiro de 1983, estando em Paris e sendo dia de Saint Valentine (dia dos namorados), eu fui conhecer finalmente o afamado Marché Aux Puces (mercado das pulgas).

Paris
Enquanto eu passeava por lá, eu fui abordada por uma cigana, que insistiu em ler a minha sorte. Naquela época eu ainda era rica, de modo que ela me viu como uma oportunidade de ganhar algum dinheiro fácil. Eu creio que nem eu nem ela estávamos preparadas para o que ia nos acontecer.

A cigana pegou a minha mão e começou a exibir seus dotes de quiromante, e eu fiquei até impressionada quando ela disse que eu ia sempre a Paris, pois estava certa. Ela disse também que o homem que estava me acompanhando não era o ‘grande amor da minha vida’, que o homem da minha vida era um ‘grand-seigneur’ e tinha olhos azuis, nisso ela acertara também. Então, ela perguntou-me o que eu queria saber sobre o futuro, e eu perguntei: “Vai ter amor na minha vida?” Ela estranhou, e perguntou: “Por que você quer saber se vai ter amor? O dinheiro não é mais importante que o amor?” Eu repondi: “O dinheiro não pode comprar o amor.” A cigana disse: “Mas o dinheiro pode comprar a saúde…” E eu retorqui: “De que adianta isso, se uma vida sem amor é o mesmo que estar morto para a vida?” Então, ela deu veredito dela: “Pois você terá que provar o que você está dizendo: que é mais importante ter amor do que ter dinheiro.”

E, tendo ela dito isso, a vidência dela se abriu de maneira miraculosa, e ela começou a falar sobre os horrores tenebrosos que me reservava o futuro do meu destino, a ponto dela chegar às lágrimas de comoção por ver o tanto de sofrimento que eu passaria, mas de repente um sorriso abriu-se radiante no rosto dela, e ela me disse: “Quando estiver passando por isso tudo NÃO PERCA A FÉ!!! Pois vejo que você se sairá vitoriosa e recuperará todas as perdas que vai sofrer e terá ainda mais do que você tem hoje, e será muito, muito feliz e ajudará muitas pessoas, inclusive a mim!!! Por favor, NÃO PERCA A FÉ!!!”

Pois bem, como é devido paguei à cigana com um pouco do que tinha na carteira, e ela não se importou de não receber o que pedira, pois vaticinou que o dia que eu voltasse a Paris, quando ela já estivesse cheia de anos, eu seria a alegria da velhice dela, porquanto que eu jamais a esqueceria e faria questão de ir procurá-la e, então, eu daria a ela o maior tesouro do mundo, aquele que o dinheiro não compra.

 Já se passaram 29 anos e eu nunca mais retornei a Paris. Eu fui para muitos lugares no mundo, mas Paris por algum motivo não foi mais meu destino. Mas, a cigana, cujo nome é Marie Thérèze, permaneceu na minha memória, sempre dizendo: “NÃO PERCA A FÉ!!!” Todos os horrores tenebrosos que ela me falou já aconteceram, todas as desgraças tiveram seu lugar na relidade e eu as superei, uma a uma. E eu devo a ela, a esta cigana, o grito de alerta para minha consciência para ter cuidado e não perder a minha fé. Em razão dos embates que estava tendo nos últimos anos, se havia alguma fé ainda em mim esta era quase menor que um grão de mostarda, sem dúvida que eu precisaria urgentemente recuperá-la a seu estado original, para que eu pudesse fazer frente às funestas previsões que ela me fizera. Mas, aonde e como – eu me perguntava –, eu poderia recuperar a minha Fé?

Assim, na medida que as previsões feitas pela cigana começaram a acontecer minha busca pela fé se fazia mais e mais preemente. Eu refletia sobre a tal necessidade que eu teria de provar que ter amor na vida é mais importante que ter dinheiro. O amor, do qual eu falara para ela, era aquele que tão bem descrito por Paulo de Tarso: “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, sou como o bronze que soa, ou como o címbolo que retine. Mesmo que eu tivesse o dom da profecia e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver amor , não sou nada. (…) O amor é paciente, o amor é bondoso. Não tem inveja. O amor não é orgulhoso. Não é arrogante. Nem escandaloso. Não busca seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.” (I Cor. 13:1-7)  Então, após muito pensar, eu descobri que o fato de eu acreditar no poder desse amor era onde eu reencontraria a força da minha fé, ou seja, se ainda havia amor em mim, mesmo que a fé fosse aquela altura de todo tão pequenina, o amor poderia recuperá-la em seu antigo esplendor.

Nos anos de tormenta que vieram, eu percebi que o ponto que realmente estava sendo colocado à prova por todo o tempo era a minha capacidade de “amar” e  não tornar-me uma pessoa fria, distante e calculista, daquelas cujos meios são justificados pelos fins. As coisas chegaram num ponto tal, que toda vez que eu pensava que tinha alcançado o fundo do poço, mais fundo ainda eu teria que descer. E eu lutava e lutava desesperadamente para sair daquela situação e mais era avassalada pelo infortúnio. A certa altura, por volta de 1995, já passados 12 anos do meu encontro com a cigana, eu me senti o próprio Jó, que, como ele, eu também fora escolhida por Deus para ser colocada à prova na minha integridade e na minha fidelidade. Do mesmo modo que Jó eu também contei com os meus “consoladores”, mui amigos, que diziam que eu caira na desgraça por minha própria culpa, devido às minhas escolhas. Escolhas? Escolhas inclui alternativas, se não existem alternativas, ou se estas levam a um desastre ainda maior, logo não há escolha! Só que diferente de Jó, eu não aceitava a situação da desgraceira que a minha vida se tornara, e resolvi bater na porta de Deus até colocá-la a baixo, querendo explicações daquilo tudo. Eu estava mais como Jacó disposta a lutar com Deus ou com quem quer que fosse, até com o demônio, para saber como colocar um paradeiro num destino ensandecido que parecia querer me destuir de vez. E, não sosseguaria até que Deus resolvesse me reponder.  

A razão já não conseguia explicar mais nada para mim, toda e qualquer racionalidade parecia não funcionar ou alcançar uma solução lógica. De modo que a argumentação de Blaise Pascal (1632-1662) passou a ganhar corpo no meu pensamento do seguinte modo:

SE DEUS NÃO EXISTE E EU ACREDITO NELE, QUANDO EU MORRER NÃO TEREI PERDIDO NADA.

SE DEUS NÃO EXISTE E EU ACREDITO NELE, QUANDO EU MORRER TAMBÉM NÃO TEREI PERDIDO NADA.

SE DEUS EXISTE E EU ACREDITO NELE, QUANDO EU MORRER EU SÓ TEREI A GANHAR.

SE DEUS EXISTE E EU NÃO ACREDITO NELE, QUANDO EU MORRER EU TEREI PERDIDO TUDO.

LOGO, A RAZÃO ME DIZ QUE EU TENHO MAIS A GANHAR ACREDITANDO NA EXISTÊNCIA DE DEUS DO QUE NÃO ACREDITANDO.

Assim, considerando também o pensamento de Norman Mailer de que “uma impossibilidade provável é melhor que uma provável impossibilidade”, eu estava cada vez mais convencida de que Deus não joga dados e sim xadrez, e que o destino sem dúvida existia, assim resolvera seguir piamente o conselho de Jesus: “Pedi e se vos dará. Buscai e achareis. Batei e vos será aberto. Porque todo aquele que pede, recebe. Quem busca acha. A quem bate, abrir-se-á.” (Mt. 7:7). 

Capela Nossa Senhora das Graças
Nessa época eu ia sempre visitar meu querido amigo e conselheiro Padre Horta, de saudosa memória, na Capela de Nossa Senhora das Graças, em Brasíli. Assim, numa tarde após uma de nossas longas conversas, eu estava saindo quando meus olhar pousou sobre um monte de panfletinhos e pegando um eu lí: “Perguntaram a Santo Agostinho porque pedimos a Deus e não somos atendidos. Ele respondeu: Malum, Mala, Mali.
Malum – Porque pedimos de maneira errada.
Mala – Porque pedimos o que Deus sabe não ser bom para nós.
Mali – Porque nós somos maus (vivemos no pecado).”

Logo, entendi o recado que Deus enviara; não adiantava nada eu ficar feito maluca batendo na porta, eu precisava “aprender a pedir” e “fazer por merecer" que o meu pedido fosse atendido.

Montanhas da Noruega                                     by Bia/1989
Se em outubro de 1989, eu começara a encontrar uma luz no final do tunel ao viajar para a Noruega e ter tido a oportunidade de conviver com pessoas tão especiais, mesmo que fosse por um breve tempo, mas tempo suficiente para aprender o valor da simplicidade da vida e como é possível transformar o que nos é adverso num estímulo para nos tornarmos mais fortes e capazes de sobrepujar nossas fraquezas, e, em Londres, o destino me colocara o conhecimento Sufis para tornar-me uma pessoa mais consciente,  de modo que eu conseguisse chegar ao meio do caminho do meu oceano de lágrimas, seria  numa nova viagem que eu finalmente recuperaria a minha fé inteiramente.

Direções
Quase em seguida ao recado de Deus do panfletinho de Santo Agostinho, eu recebi o convite da Marinha do Brasil para participar de uma viagem a Antártica. Desde quando eu tinha 10 anos, eu sabia que algum dia eu iria visitar o continente gelado. Logo, ficou claro para mim que eu tinha um encontro com o destino na Antártica, ao qual eu não devia faltar de nenhuma maneira. O momento poderia não ser menos propício, já que as dificuldades financeiras eram imensas, mesmo assim eu vendi os anéis de ouro que me restavam para pagar as despesas, pois eu tinha uma única certeza: o meu destino dependia daquela viagem. Assim, com os meus 40 anos recém completados lá fui eu para a Antártica.

Na Antártica
No dia 12 de outubro de 1995, dia de Nossa Senhora Aparecida, um mês exato após meu aniversário, lá estava eu atravessando as águas geladas da passagem de Drake em direção da ilha do rei George, animadissima com a perspectiva de chegar a Antártica, mas não foi possível aterrissar e o avião teve que voltar para Punta Arenas, no Chile. O que não se esperava era que o trem de aterrissagem congelasse e a situação ficou preta. A perspectiva de um acidente era alta, mas por um milagre o trem de pouso descongelou e chegamos em segurança. Durante o perigo, eu pensava que nem aquele índiozinho do desenho animado da Disney, que dizia “hoje é um bom dia para morrer”. Afinal já tinha tantas vezes encarado a morte de frente nos últimos anos, que naquela altura do caos da minha vida, mais uma não faria diferença, e em razão de um suícidio recente na família passara a considerar que a morte era uma saída fácil dos problemas da vida, duro mesmo era encarar a realidade nua e crua dos fatos e sobrepujar as dificuldades.

Capelinha na Antártica                                                  by Bia/1995
No dia seguinte, lá fomos nós de novo e dessa vez o avião pousou no solo antártico num dia maravilhoso de um céu azul indescritível. Apesar de todo o esquema montado para a visita à estação chilena da Antártica, eu consegui fazer uma caminhada solitária de exploração e esta me levou a uma pequena capela no alto de um morro, cujos vitrais em tons de amarelo davam uma luminosidade convidativa à meditação. Alí eu fiquei um bom tempo rezando, agradecendo por estar viva e por tudo mais, e, naturalmente, agora com muita humildade, pedindo para que a minha minguada fé fosse fortalecida. 

Encontro com Deus
Então, saindo da singela capelinha, continuei a caminha pela neve e sentei numa pedra no alto da montanha, de onde eu pudia contemplar um magnífico vale de gelo que espelhava o céu, de modo que num infinito horizonte o céu e a terra não estavam separados. Ao ver essa imagem magnífica, mesmo sob um frio muito intenso eu senti um calor tomar conta do meu corpo e pela primeira vez depois do que me parecia ter sido uma eternidade, aquela sensação indescritível de quando eu era criancinha brincando com os raios de sol voltou a mim. No mesmo momento eu percebi que novamente eu estava me enchendo de FÉ, eu era como um copo vazio que se colocava água. E conforme a FÉ me tomava, eu também pudia sentir a presença de Deus em mim e em tudo a minha volta, e parecia-me que o chão que eu pisava e o céu que estava sobre a minha cabeça constituiam o único e verdadeiro templo de Deus. Finalmente, a porta de Deus inesperadqamente se abrira inteiramente para que eu passasse por ela. Naquele momento miraculoso eu tive a certeza absoluta que Deus não me abandonara à minha própria sorte e senti uma gratidão tão imensa que lágrimas de felicidade banharam o meu rosto. A partir daquele milagre, eu sabia que eu começava a trilhar um novo caminho, não mais segundo a minha vontade, mas segundo a vontade de Deus.

Céu e terra                                                             by Bia/1995
Após esta viagem, onde reencontrei a Deus, e reencontrando a Ele, eu reencontrei a mim mesma, com a FÉ renovada eu sabia que conseguiria vencer todo o desafio que seria reconstruir a minha vida. Havia apenas um porém, eu em breve descobriria que fazer a vontade de Deus não seria nada fácil. Logo após regressar a Brasília, nada melhorou, ao contrário piorou ainda mais, todas as portas para qualquer trabalho foram fechadas. Sem nenhuma esperança de encontrar trabalho e apenas com a coragem que só a fé pode dar, eu decidi retornar para São Paulo, deixando minha mãe e meu filho em Brasília. O meu sucesso em encontrar trabalho não durou nem um ano, mas foi mais do que o suficiente para uma pequena melhoria, tanto o meu filho conseguira entrar na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, como eu consegui que mamãe viesse morar comigo em São Paulo.  

Na difícil luta daqueles dias, os meus passos me conduziram de volta à  Igreja de São José, onde eu esperava ser possível reencontrar o amor por Jesus, o "coração de Jesus", que me fora já tão precioso. Era como se eu quisesse dizer a ele o quanto eu ainda o amava, mesmo não tendo tido a oportunidade de serví-lo como tanto desejara no passado. De alguma maneira que só Deus pode explicar, eu reencontrei a Jesus, e desde 9 de março de 1997 dedico a minha vida à ele. Eu não precisei me tornar uma freira para serví-lo, nem para seguí-lo, nem mesmo ser de toda uma santidade ou ser católica (pois eu sou uma dissidente do catolicismo), apenas foi necessário que eu me esforçasse para ser o melhor em mim mesma, dar o melhor de mim em tudo que faço e fizesse do meu amor a minha profissão de fé. Desde então, eu tenho aprendido tudo o que eu sei com Jesus, foi ele que me ensinou como a fé é poderosa quando se age com fé a todo instante e com todo o amor pelo que se faz . Ele me ensinou também, que sempre existirão obstáculos para serem transpostos, batalhas a serem vencidas, desafios a serem conquistados, mas, que é mais fácil carregar a cruz do destino sorrindo do que chorando. Certo, certissimo! E foi assim, sempre com um sorriso no rosto que eu passei as tantas dores que ainda me estavam reservadas, dores que partiram o meu coração, como ver todos da minha família morrer, um após o outro em curto espaço de tempo e até meu cachorro morreu. Contudo, alegrava-me vendo meu filho seguindo seu brilhante destino que lhe fora reservado por Deus, mesmo que para isso tenha sido necessário que nos separássemos por cinco anos, ele vivendo nos Estados Unidos estudando em Harvard e eu sozinha aqui em São Paulo.

Hoje, quando volto meu olhar para o meu passado tenebroso e sombrio, que fica a cada dia mais e mais distante, admiro-me do seu contraste com esse tempo tão luminoso em que vivo. Admiro-me também que tenha sido necessário ter perdido tudo em todos os sentidos para finalmente alcançar uma felicidade tão desejada e sonhada. Há a certeza dentro de mim que eu consegui provar que o amor vale muitas vezes mais que o vil metal, que, como Jesus ensinou, nós devemos saber lidar com as coisas materiais sem depender delas, sem nos apegarmos demais, pois a nossa felicidade não depende disso, do que temos ou não temos. O amor é uma dádiva que Deus nos deu, uma força poderosa e o agir por amor trás recompensas que nem mesmo com toda a fortuna do mundo poder-se-ia comprar.

O segredo da minha vitória residiu em ter percebido a tempo, que a minha fé estava se perdendo e que possivelmente se eu a perdesse inteiramente eu também perderia o amor que havia em mim, e não querendo perder o amor eu reencontrei a fé, a firmeza para lutar pela vida e fazer de quem sou uma pessoa melhor e digna aos olhos de Deus. Sim, provei com muito esforço e mérito o que eu disse: o amor vale mais que o dinheiro. Eu posso ter passado por tola um trilhão de vezes; eu posso não ser rica como já fui; eu posso não ter mais a beleza que eu tinha na juventude; eu posso nem ter lá muitos amigos como eu tinha no passado;  eu posso não ter mais sucesso profissional como já tive e eu posso até ter perdido a oportunidade de ter conquistado o mundo, contudo, de que valeria ter tudo isso e ter perdido a minha fé, o meu amor e a minha alma? Se eu não tivesse amor em mim eu não seria nada, se eu não tivesse fé não haveria razão para eu existir e se eu não tivesse alma eu não viveria.

Digo sempre ao meu filho que ele é a prova viva que o amor vale a pena. Ele foi a minha testemunha, ele conhece a minha fé em Deus, e a minha devoção amorosa com Jesus, pois se não fosse assim, meu filho não seria este homem maravilhoso que é e do qual eu me orgulho tanto em ser  tão apenas sua mãe. A verdade, a minha única verdade, é que se não fosse com a ajuda de Deus e com a de Jesus eu não teria conseguido ser uma boa mãe e não estaria aqui escrevendo essas palavras para vocês. Certamente eu não teria sobrevivido! Ao meu ver a razão humana não tem como explicar o meu destino, só Deus e unicamente Deus sabe o motivo pelo qual fui tão açoitada pela vida, mas certamente não foi pelos meus pecados. Eu errei um montão, mas foi errando que aprendi a fazer o certo, pois eu errava e corrigia os erros e não mais os repetia. Por vezes, eu penso que eu fui como uma pedra bruta preciosa nas mãos de Deus, e que ele foi me lapidando até que eu tivesse o brilho que Ele desejava que eu tivesse, porquanto todos os golpes doloridos que sofri tornaram-me o que sou hoje, alguém bem mais consciente, firme e capaz de ser feliz, mesmo se a adversidade resolver aparecer de novo. Além disso, talvez só agora eu possa realmente ajudar as pessoas como sempre desejei, já que todo conhecimento decorre da experiência e da vivência, e eu vívi e como vívi! Eu posso afirmar que me formei com honra e mérito na Faculdade da Vida e me tornei uma doutora em resiliência! (A resiliência é a capacidade de lidar com problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas - choque, estresse etc. - sem enlouquecer, permitindo o  enfrentamento e a superação de problemas e de adversidades.) Eu diria, também, que sem sombra de dúvida adquirir tal conhecimento valeu a pena, principalmente se eu puder transmití-lo às outras pessoas e cada uma possa encontrar sua própria felicidade. Assim, saibam, que quando coisas ruins acontecem com pessoas boas, Deus não está sendo injusto, simplesmente Ele está querendo torná-las ainda melhores do que são!

Jogue xadrez com Deus!!! 
Nestes dias em que me dou conta que os dias felizes já não são mais tão raros que eu possa contá-los nos meus dedos, e que a felicidade virou companheira constante, eu me pego sonhando a esperar com alegria que a parte final da profecia da minha cigana de Paris venha a se cumprir, e, então, eu possa vir a abraçá-la novamente dizendo: “Querida, Marie Thérèze, aqui estou eu! NÃO PERDI A MINHA FÉ!!!” Quando isso acontecer, vocês saberão, pois será  uma prova inefável que Deus existe mesmo e que defiitivamente Ele é o maior jogador de xadrez!!! Mas, se arrisque, Ele não se importará em perder para você, é isso que Ele quer, ver você vencedor!!!

Para encerrar esta postagem com chave de ouro, apresento a vocês esse rapaz britânico formidável de 24 anos, cujos pais são de Uganda, mas ele se criou em Londres, e que como compositor ganhou o prêmio BBC Sound of 2012, em 6 de janeiro último, e continua fazendo o maior sucesso com sua música I'm Getting Ready do album Home Again (24/07/2011). Seu nome é MICHAEL KIWANUKA, e aposto que vocês vão gostar e muito!!!



Oh my, I didn't know what it means to believe
But if I hold on tight, is it true?
Would you take care of all that I do?
Oh Lord, I'm getting ready to believe.
Oh my, I didn't know how hard it would be,
But if I hold on tight, is it true?
Would you take care off all that I do?
Oh Lord, I'm getting ready to believe.
Then we'll be waving hands singing freely,
Singing standing tall it's now coming easy,
Oh no more looking down, honey, can't you see?
Oh Lord, I'm getting to believe...

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